Sinopses de Filmes

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"Rastros de Ódio", de John Ford (1956)
"Roma, Cidade Aberta", de Roberto Rosselini (1945)
"Robôs", de Carlos Saldanha e Chris Wedge (2005)
“Os Rebeldes”,
de Mark Rydell (1969)

 

 

 

 

 

 

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"Rastros de Ódio", de John Ford (1956)

 


Em The Searchers, de John Ford (1956), Ethan Edwards, representado por John Wayne, é um soldado durão, indomável, veterano do exército confederado, que visita seu irmão Aaron e sua cunhada no Texas de 1868, após dois anos do fim da Guerra da Secessão. Logo após sua chegada, a casa é atacada por índios comanches, que matam seu irmão, cunhada, sobrinho e raptaram sua sobrinha caçula (Debbie). A partir daí, ele e um sobrinho mestiço adotado, Martin Pawley (representado por Jeffrey Hunter) começam uma caçada de vingança que dura anos a procura de Debbie, e dos índios comanches que a seqüestraram. Como observa Martin Scorsese em seu livro “Uma viagem pessoal pelo cinema americano” (CosacNaify, 2004), existe uma evolução na persona heróica de John Wayne de Stagecoach à Rastros de Ódio, passando por Legião Indomável: “O Ringo Kid de No tempo das diligências (1939) evolui primeiro para a figura do pai benevolente de Legião Indomável (1949). Em seguida, Ford o transforma em Ethan Edwards, o desajustado de Rastros de Ódio (1956), que volta para casa depois de anos de nomadismo e descobre que seus entes queridos foram massacrados pelos índios”. Em The Searchers, o herói de John Ford tornou-se uma persona sombria e obsessiva. Diz Scorsese: “A morte física do índio não é o bastante. Ethan quer certificar-se também de sua morte espiritual.” Ethan odeia os Comanches, e seu objetivo não é salvar a sobrinha (que aos 16 anos é interpretada por Natalie Wood), mas matar seus captores e ela própria. Depois de tanto tempo (a caçada dura cinco anos), Debbie, acredita, tornou-se um deles. Em The Searchers, os índios, povos derrotados, espoliados de suas terras pelos brancos, são apresentados como maus, cruéis e selvagens. Por outro lado, o herói americano, é um homem solitário, desajustado, amargurado e cheio de ódio e rancor. Diz Scorsese: “Ethan Edwards é o personagem mais assustador do filme.” Ora, o western é a representação filmica da mitologia imperialista dos EUA. Nunca um gênero do cinema conseguiu representar tão bem a ideologia primordial de uma Nação. A evolução da persona heróica de John Wayne na trilogia supracitada, dirigida por John Ford, talvez seja a projeção estética da própria evolução do protagonismo geopolítico dos EUA diante do mundo. De Stagecoach a The Searchers se passaram quase vinte anos. Estamos diante de quase um outro país. Com certeza, o herói fordiano não poderia ser o mesmo. Um detalhe: a cavalaria yankee não se destaca na narrativa de The Searchers, mas sim a ação heróica de Ethan Edwards ou dos The Rangers, milicia civil organizada no Texas. A dica são os comentários de Damian Cannon no site inglês da Movie Reviews. [topo]
(2005)

 

 

"Roma, Cidade Aberta", de Roberto Rosselini (1945)



Drama de resistência à ocupação nazista em Roma, na II Guerra Mundial. Giorgio Manfredi ou Luigi Ferrari é um líder comunista da Resistência Italiana, que foge da Gestapo, escondendo-se no apartamento de Pina, interpretado por Anna Magnani, e depois, no apartamento de sua amante, Marina Mari, que lhe trai, entregando-o aos nazistas. Giorgio é preso junto com Dom Pietro Pellegrini (interpretado por Aldo Fabrizi), padre que colabora com a Resistência italiana, e com Francesco, noivo de Pina, também membro da Resistência. Entre 1943 e 1944, Roma sob ocupação nazista é declarada “cidade aberta” para evitar bombardeios aéreos. Roma, Citta Aperta, é um drama de escolhas morais em tempos difíceis (tema-chave dos filmes neorealistas italianos). Antes de ser um drama político, é um drama moral de alta intensidade. Rosselini nos mostra personagens italianos fortes e frágeis, uns capazes de resistir não apenas à escassez e a fome (como é o caso de Pina), mas à tortura e serem condenados à morte (como Giorgio Manfredi ou Luigi Ferrari, Francesco, ou Dom Pietro); e outros, seduzidos pela vida de conforto, colaboram com o inimigo nazista (como é o caso da jovem Marina Mari, amante do líder da resistência). O roteiro é de Sérgio Amidei e Federico Fellini (em começo de carreira). [topo]
(2005)

 

 

 

"Robôs", de Carlos Saldanha e Chris Wedge (2005)

 

Rodney, filho do casal Lataria, é um jovem robô empreendedor que vive no subúrbio de Robópolis e que desde cedo demonstra aptidão para as invenções. Ele sonha em trabalhar com um poderoso inventor conhecido como Big Weld (Grande Soldador). Por isso, decide visitá-lo para mostrar a ele suas idéias. No entanto, ele descobre que quem manda agora é Dom Aço, que pretende fazer um upgrade das máquinas. Quem não tiver dinheiro para se modernizar, sai de circulação e vai para o ferro velho. Em Robopólis, Rodney irá encontrar novos amigos e conhecer uma gangue de máquinas excluídas da sociedade. Manivela, seu récem-amigo, assim como o pai de Rodney, está ficando velho, e já não encontram mais peças para reposição. Finalmente, Rodney e amigos decidem fazer justiça com as próprias mãos e libertar o Grande Soldador, que descobrem ser refém de Dom Aço. Ao assumir novamente o controle de sua corporação industrial, o Grande Soldador poderá voltar a fabricar peças sobressalentes para as máquinas ultrapassadas pela inovação tecnológica e ameaçadas de irem parar no ferro velho. Em Robôs, Dom Aço é a expressão do "capitalismo selvagem" - ou melhor, do capital financeiro (que predomina hoje, sob o capitalismo global) e que só visa o lucro e a descartabilidade. Por outro lado, o Grande Soldador aparece como a representação do "capitalismo social" que busca repor as energias perdidas e não fazer meramente o upgrade. Robôs é dirigido por Chris Wedge e pelo brasileiro Carlos Saldanha (o mesmo time de A Era do Gelo). É uma fantasia dos riscos da alucinada inovação tecnológica que ameaça, com a desvalorização persistente, o mundo dos homens (que aparecem invertidos como robôs). Mas a culpa da obsolescência planejada, prática comum das corporações industriais, é atribuída a um executivo malvado e corrupto e não a um modo de produção social, o capitalismo, que possui, em si, a lógica da produção destrutiva. Deste modo, uma animação tão sofisticada e bem trabalhada, muitas vezes é desperdiçada num roteiro tão pouco ousado e criativo. É claro que no subtexto do filme, existe uma crítica sutil à "sociedade de consumo", à modernização desenfreada, ou até uma discreta crítica ao sistema ditatorial de Hollywood, onde o que conta é a juventude e a beleza (por isso, tantas ‘estrelas’ se submetem ao bisturi, ou seja, o upgrade). Entretanto, faltou-lhe ousadia em sugerir algo para além da luta do Bem contra o Mal ou de um suposto "capitalismo social" (Grande Soldador), aquele que solda o compromisso social, contra um capitalismo Selvagem... É visível o excesso de referências à cultura pop, como O Espanta Tubarões, Cantando na Chuva e 2001: Uma Odisséia no Espaço. Além disso, nota-se que o visual do filme parece ter sido inspirado na cultura tecnológica dos anos 1950, época em que os eletrodomésticos começaram a se tornar popular; por isso os personagens até têm a cara dessas parafernálias. [topo]
(2005)

 



“Os Rebeldes”, de Mark Rydell (1969)

 

Baseado no romance de William Faulkner, The Reivers conta a aventura muito bem-humorada, ambientada no interior do Mississipi, na antiga década de 1900, de Boon, personagem interpretado por Steve McQueen, ajudante temporário de um médico (Will Geer), que "pega emprestado" o novo automóvel de seu patrão, um espetacular Winton Flyer amarelo, e se manda para Memphis. Na companhia dele está Ned (Rupert Crosse), um empregado negro e Lucius, um ingênuo menino de 12 anos, em vias de perder sua inocência. Os três "larápios" se metem numa louca fuga que irá levá-los a vários lugares, de um bordel à uma espetacular corrida de cavalos, onde Lucius tem que montar um garanhão e ganhar, se quiser recuperar o carrão que Ned trocou por um cavalo. Com uma fabulosa trilha sonora de John Williams, The Reivers é uma comédia sentimental, apresentada como reminiscências encantadora e nostálgica do jovem Lucius. Por um lado, o filme consegue expor com graça a perda da inocência do menino Lucius, e, por outro lado, a presença deslumbrante da modernidade-máquina no interior dos EUA, marcado ainda pelos traços provincianos (a presença do Winton Flyer e dos postes de eletricidade indicam a chegada irremediável do progresso). [topo] (2006)