Sinopses de Filmes

N
"No Tempo das Diligências", de John Ford (1939)
"Uma Noite na Ópera", de Sam Wood (1935)
"A Nós A Liberdade",
de René Clair (1931)
"O Náufrago",
de Robert Zemeckis (2000)
“Nós, As Mulheres”,
de Luchino Visconti,
Roberto Rossellini, Luigi Zampa, Alfredo Guarini
e Gianni Franciolini (1953)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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"No Tempo das Diligências", de John Ford (1939)


Stagecoach, de John Ford é o clássico primordial do western. Produzido em 1939, relançou o gênero em alto estilo, obtendo várias estatuetas do Oscar de Hollywood. Uma diligência atravessa o interior o Arizona rumo ao Novo México, território Apache, levando a prostituta Dallas (Claire Trevor), expulsa da cidade de Tonto (Arizona) por um bando de matronas indignadas; Doc Boone (Thomas Mitchel), o médico bêbado; Henry Gatewood (Berton Churchill), o banqueiro que rouba o banco; a esnobe senhora Lucy Mallory (Louise Platt), grávida, viajando ao encontro do marido, oficial do Exército; Hatfield (John Carradine), o jogador Confederado; Samuel Peacock (Donald Meek), o vendedor de uísque; o xerife Curley Wilcox (George Bancroft); e o cocheiro Buck Rickabaugh (Andy Devine). Com eles, Ringo Kid (John Wayne), o pistoleiro que fugiu da cadeia para vingar a morte do irmão e do pai. Stagecoach é a epopéia do velho Oeste através de uma viagem de diligência, tendo como background a majestosa paisagem do Monument Valley e a constante ameaça dos índios Apaches. Mas, o que é intenso em Stagecoach, mais que as cenas de ação, próprias dos bang-bang, é o delineamento primoroso dos tipos de classes sociais, seus preconceitos, sonhos e ilusões. Em Stagecoach, o conceito de classe social assume magnitude heurística, inclusive tornando claro os traços idiossincráticos dos personagens típicos. Neste filme de John Ford, temos a síntese magistral das personas de classe da América nascente. No decorrer da perigosa travessia, Ford apresenta o drama social das fronteiras da grande civilização do capital, que são os EUA, em sua forma pura. E mais do que nunca, a análise de classe é imprescindível para explicitar, em seus detalhes sócio-psicológicos (e históricos), os meandros complexos de uma narrativa tão simples. [topo]
 
(2004)

 

 

Uma Noite na Ópera, de Sam Wood (1935)

Um astuto empresário, interpretado por Groucho Marx, e seus dois amigos amalucados (Harpo e Chico Marx), resolvem ajudar um jovem casal de cantores líricos apaixonados a fazerem sucesso na Ópera de Nova York. Atrapalham os planos do esnobe e presunçoso canto lírico Rododlfo Lasparrri e de seu agente, Herman Gottlieb. A Night at the Opera é uma comédia clássica dos Irmãos Marx de 1935, o primeiro de sua fase na MGM. Irreverência anárquica e ironia ácida contra os costumes e a mediocridade social da América high society. A cena do contrato (a clausula de sanidade), a da cabine no navio (onde sempre cabe mais um...), e a cena da Opera (onde Harpo e Chico implantam a desordem geral), são gags magistrais, de um humor galhofeiro, non-sense, anárquico e ácido contra os rituais hipócritas da high society da burguesia. Atentando contra os pilares da propriedade privada (o que é mais sagrado que um contrato?) e a hierarquia social (o que é mais hierarquizado que uma Orquestra Sinfônica?), os Irmãos Marx desencantam com humor anárquico o modus operandi do metabolismo social do capital. Talvez o vínculo com anseios e humor popular dos Irmãos Marx seja herança das raízes proletário-popular da comédia vaudeville do começo do século XX.[topo]
(2005)

 

"A Nós A Liberdade", de René Clair (1931)

Louis, interpretado por Henri Marchand, consegue fugir do presídio, com a ajuda do amigo Émile (Raymond Cordy). Torna-se um rico industrial do ramo fonográfico. Anos depois, ao ser libertado, Émile, por acaso, vai trabalhar na fábrica de Louis. Com a ajuda do velho amigo, ele busca se aproximar da sua amada, a jovem Jeanne (Rolla France), empregada de escritório da fábrica. Entretanto, ela ama outro operário. O desenlace narrativo ocorre quando Louis é chantageado por causa de seu passado. Finalmente, ele decide voltar, com o amigo Émile, à vida de liberdade e companheirismo. Filme clássico de René Clair, que expressa uma critica aguda à vida burguesa, baseada no trabalho estranhado e na negação do ócio. O filme trata também do significado do progresso técnico e da ideologia do amor romântico, uma das ideologias da modernidade do capital. Em A Nous la Liberte, Émile e Louis são vagabundos, the tramp de Chaplin, que cultivam valores pré-modernos, da liberdade e do companheirismo. Clair expõe a lógica da sociedade do trabalho estranhado, suas impostações factuais, que alienam os homens do verdadeiro sentido da vida. Em A Nous la Liberte, a linha de montagem está no presídio e na fábrica, consumindo tempo de vida de homens e mulheres. Na verdade, é contra a expansividade do capital e da ideologia do trabalho estranhado que René Clair se manifesta em A Nous la Liberte. Em 1931, imerso na depressão capitalista, a critica do salariato e do estilo de vida burguês assume, com Clair, no cinema, seu ápice. É importante destacar que, na mesma época, o alemão Ernst Jaeger escrevia O Trabalhador, uma ode ao trabalho, base da civilização do capital. O que significa que Clair com A Nous la Liberte está envolvida numa luta ideológica contra as disposições do sistema do capital. Talvez inspirado em Clair, Chaplin iria produzir, anos depois, seu Tempos Modernos. O vagabundo de Chaplin e o Émile e Louis de Clair são da mesma estirpe – são anti-heróis problemáticos, personagens pré-modernos, quase Quixotes contra o avanço alucinante da modernização capitalista, que teve seu impulso maior na década de 1920. É interessante que Émile e Louis não apenas proclamam o velho ócio, das sociedades pré-industriais, imersas no ritmo da natureza, mas as possibilidades do novo ócio, baseado nos avanços das máquinas, que poderiam colocar, pelo menos, a possibilidade de liberação dos homens do trabalho estranhado (o que exigiria a abolição do capital como propriedade privada e divisão hierárquica do trabalho). Clair é visionário ao vincular a ideologia do amor romântico, escape furtivo à banalidade do cotidiano capitalista, com a indústria fonográfica, ou seja, um tipo de indústria cultural, a fábrica dos sonhos. [topo]
(2005)

 

"O Náufrago", de Robert Zemeckis (2000)

Chuck Noland (interpretado por Tom Hanks) é um inspetor da Federal Express (FedEx), empresa multinacional de entrega de cargas e correspondências, que tem por função checar vários escritórios da empresa pelo globo. Numa de suas viagens ocorre um trágico acidente de avião. Chuck, único sobrevivente, fica preso em uma ilha deserta do Oceano Pacífico, por quatro anos. Ele terá que lutar para sobreviver e se adaptar à solidão na ilha deserta. Nesse ínterim, sua noiva (Helen Hunt) e seus amigos imaginam que ele morrera no acidente de avião. Em Cast Away, Zemeckis expõe um personagem obcecado pelos constrangimentos do sistema do capital em sua época de globalização. Em certo momento, Chuck Noland, executivo da FedEx, nos diz: “O tempo nos controla sem piedade...”. A escolha da Federal Express é sintomática pois ela tipifica a multinacional da globalização, onde a abolição do espaço através da redução do tempo é sua constante obsessão. Como empresa de entregas, a FedEx Noland expressa tal liturgia do capital e Chuck Nolland é seu sacerdote supremo. É um personagem imerso no tempo constrangido do capital. Não possui tempo para cuidar de si. Em Cast Away se sugere que a globalização se constituiu, de fato, com a derrocada do Leste Europeu e a dissolução da União Soviética. É na Rússia capitalista que Nolland irá catequizar os empregados da FedEx na lógica do capital. O seu discurso no escritório da FedEx em Moscou é típico desta nova era histórica. O ponto de inflexão decisivo é o acidente aéreo. Ao sobreviver e ficar preso na ilha deserta, tal qual um Robinson Cruso é pós-moderno, Nolland se depara com outro mundo estranhado, o da Natureza inóspita, que o oprime e sufoca (na verdade, é uma outra Natureza que está diante de Chuck Nolland). Na ilha deserta, diz ele, “não podia nem me matar como eu queria. “E arremata: “Não tinha poder sobre nada”. Entretanto, Nolland tinha todo o tempo do mundo. Naquele local inóspito, descobre a categoria do trabalho. Entretanto, ele não parte do nada. É obrigado a produzir, a partir de restos da civilização, isto é, destroços do avião acidentado, meios de sobrevivência material. A imagem da noiva num relógio de estimação e uma bola de voleibol transformada numa caricatura de rosto humano, tornam-se seus objetos fetichizados, consolo para seus dias de solidão e impotência. Nolland consegue sobreviver e escapar da ilha deserta. Retorna para a civilização do capital. Torna-se exemplo de persistência e esperança. Perdeu a noiva, que se casou com outro, constituindo família. Mas aprende a não entrar em desespero. Na verdade, Cast Away possui uma lição de vida. Sugere que, entre as duas Naturezas, a Natureza do capital e a Natureza da Ilha deserta, só nos resta acreditar na maré. Afinal, apesar das tragédias do cotidiano, das crises da globalziação e das pequenas fatalidades, “quem sabe o que a maré poderá trazer?”. [topo]
(2005)


 

“Nós, As Mulheres”, de Luchino Visconti,
Roberto Rossellini, Luigi Zampa, Alfredo Guarini
e Gianni Franciolini (1953)


 

O grande roteirista Cesare Zavattini idealizou, em 1953, um filme dividido em episódios que mostra atrizes famosas interpretando a si mesmas em situações cotidianas: "Quatro atrizes: Uma Esperança" de Alfredo Guarini, mostra os bastidores de um concurso de moças que sonham em se tornarem em atrizes de cinema. "Alida Valli" de Gianni Franciolini, onde a atriz Alida Valli demonstra sua insatisfação com o vazio da vida de estrelato (vide foto acima, numa crise de nostalgia). "Ingrid Bergman" de Roberto Rossellini, com a atriz Ingrid Bergman, mostrada em suas atividades cotidianas, com destaque para sua obsessão em perseguir um galo que está destruindo suas plantas. "Isa Miranda" de Luigi Zampa, onde a atriz Isa Miranda, uma das deusas do cinema italiano da época fascista, lamenta o fato de ter abdicado à maternidade, para se dedicar à carreira de atriz. E finalmente, "Anna Magnani" de Luchino Visconti, onde a talentosa atriz Anna Magnani briga com um taxista, por causa de seu cachorrinho de estimação. O filme retrata por um lado, a busca alucinada pelo estrelato ("Quatro Atrizes: Uma Esperança") e por outro, a falta de sentido do estrelato na sociedade burguesa. Na verdade, a vida de sucesso parece ser tão glamourosa, quanto vazia (é o caso dos episodios "Alida Valli" e "Isa Miranda"). A falta de sentido se traduz não apenas em situações de nostalgia e melancolia (como, por exemplo, a solitária Isa indo buscar na família proletária um modelo de vida plena de sentido), mas em situações ridiculas do cotidiano (a perseguiçào de Ingrid a uma galinha ou a discussão de Anna em defesa de seu cachorrinho). Neste mesmo ano de 1953, Cesare Zavattini lançou outro filme de autores, dividido em episódios, intitulado "Amor na Cidade". [topo]
(2006)