"Laranja
Mecânica", de Stanley Kubrick
(1971)
A Clockwork Orange, é um dos clássicos
de Stanley Kubrick, produzido em 1971. Foi baseado no romance
distópico homônimo de Anthony Burgess, cuja primeira
edição é de 1962. Na Londres de um futuro
não muito distante, o jovem Alex De Large (interpretado
por Malcolm McDowell) e seus amigos (ou drugues, na
linguagem Nadsat, criada por Burguess), Pete, Georgie e Dim,
espancam um velho mendigo, enfrentam uma gang rival, provocam
acidentes na estrada, assaltam e estupram casa de família.
Certo dia, ao assaltar a mansão de uma criadora de gatos,
Alex é traído pelos seus amigos e é capturado
pela polícia. Acusado da morte de sua vítima de
assalto, é condenado a 14 anos de prisão. Entretanto,
na penitenciária, ele se oferece para ser cobaia do Tratamento
Ludovico, que busca regenerar criminosos comuns através
da eliminação do reflexo criminal. A Técnica
Ludovico manipula o cérebro utilizando drogas e vídeos.
Um dos temas candentes de Laranja Mecânica é
o problema da ressocialização penal, ou seja,
o que fazer com a crescente população prisional
nas sociedades tardias do capital. É um tema de atualidade
premente nos paises capitalistas centrais ou periféricos,
com o crescente contigentes de jovens desempregados e imersos
em profunda crise fiscal. Naquela época, de prenúncio
da crise do fordismo-keynesiano, o problema da juventude marginal
já se tornava motivo de preocupação dos
governos (a questão de classe social é importante:
o jovem Alex, que adora sexo, violência e Beethoven, é
filho único de uma família de trabalhadores ingleses).
Ao abordar em 1962, (e em 1971, no caso de Kubrick), a utilização
de técnicas neurais para o controle social, Burgess e
Kubrick demonstram sua genialidade, antecipando o que é
vigente em nossos dias: o uso abusivo das drogas para a adaptação
social. Na verdade. por trás da Técnica Ludovico
está um dos temas marcantes da filmografia de Kubrick:
a discussão da identidade do homem em tempos de agudo
estranhamento e de fetichismo da mercadoria. A Clockwork
Orange pode nos indicar as formas expressivas de estranhamento
vigentes no capitalismo manipulatorio. [topo]
(2005)
"Legião
Invencível", de John Ford (1949)
She Wore a Yellow Ribbon, de 1949, é o segundo
filme da trilogia de John Ford sobre a cavalaria; os outros
foram Fort Apache (Forte Apache), de 1948, e Rio
Grande (Rio Grande), de 1950. Nesse clássico do
western, John Wayne é o capitão da cavalaria
Nathan Cutting Brittles, que em sua última semana de
serviço no front, consegue impedir um ataque massivo
de índios arapahoe e cheyenne contra o Forte C. Na verdade,
o capitão Brittles é um solitário em busca
de seus princípios, com grande senso de dever, beirando
o fanatismo, onde a morte não é algo a se temer.
Como um pai benevolente, ele está disposto a buscar a
paz com os índios em sua derradeira missão. Os
índios são representados como bárbaros
insubmissos e temidos que reagem, de forma violenta, contra
a ocupação do homem branco em sua terras de caça
(aparecem, em geral, atacando os comboios ou a cavalaria). Em
She Wore a Yellow Ribbon, antes de executar o "ataque
preventivo" à tribo arapahoe, Britlles busca um
diálogo com o velho cacique que, incapaz de negociar
a paz, culpa os jovens indígenas pela sede de morte contra
o homem branco. A trilogia de Ford sobre a cavalaria é
um ótimo recurso fílmico para uma reflexão
histórica (e sociológica) sobre a ideologia (e
morfologia) histórica do imperialismo yankee
em sua forma primordial endogenica: o massacre das populações
indígenas. A glorificação do United
States Army surge com a cavalaria em sua missão
histórica de defender a ocupação do território
nativo, segregando as várias tribos indígenas
em reservas demarcadas. Com John Ford, o ideal da Nação
construída através das "legiões invencíveis"
se apresenta em alto estilo. Entretanto, o patriotismo de Ford
não é vulgar, nem piegas. Ele não destaca
a corporação militar em si, mas a figura do herói
épico, quase messiânico, que, embora integrado,
é um tipo solitário e meio perdido, representado
com vigor por John Wayne, ator preferido de Ford. Mas o herói
fordiano se transfigura no decorrer da filmografia fordiana,
quase seguindo a lógica da própria geopolítica
dos EUA (é o que veremos em Rastros de Ódio, outro
filme de John Ford, de 1958). Uma dica: é interessante
o artigo de Bebete
Viegas sobre Os heróis fordianos. [topo]
"O
Leopardo", de Luchino Visconti
(1963)
Il Gattopardo, de Luchino Visconti é uma obra-prima
do filme histórico do século XX. A partir do romance
de Tomasi Di Lampedusa, Visconti nos apresenta com vigor narrativo
a ascensão das "classes médias" (a burguesia)
e a decadência da nobreza sob o Risorgimento
italiano, em 1860. É impressionante a construção
de personagens típicos e seus vinculos com a estrutura
de classe. Deste modo, o filme de Visconti não é
apenas um filme histórico, mas é uma narrativa
sociológica baseada nas categorias de classes e luta
de classes, apreendidas num momento histórico típico.
É a expressão-mor do realismo histórico,
com Visconti demonstrando a importância (e o vigor) da
construção de uma narrativa histórica baseada
nas categorias de classes sociais e luta de clases, tão
esquecidas pelo cinema e pelas teorias sociológicas pós-moderno.
Temas significativos em Il Gattopardo: classes sociais,
luta de classes, objetividade e subjetividade de classe, revolução
social, revolução passiva e transformismo (conceitos
de Antonio Gramsci). Seria interessante um painel analítico-sociológico
dos filmes "O Leopardo", "A Terra Treme"
e "Rocco e Seus Irmãos", todos de Luchino Visconti,
uma trilogia interessante sobre a anatomia de uma sociedade
capitalista imersa no passado e presente da exploração
do capital em suas formas arcaicas e modernas. Uma dica é
o site Luchino Visconti,
dedicado inteiramente a Visconti e sua obra. [topo]
(2004)
“A
Luz é para Todos”, de
Elia Kazan (1947)
Phil
Green, jornalista (interpretado por Gregory Peck), resolve se
mudar para Nova York, onde é convidado pela revista a
qual trabalha para escrever uma série de artigos sobre
o anti-semitismo nos EUA. Buscando um angulo completamente diferente,
ele decide fingir ser judeu. Essa experiência permite
a Green descobrir quais os sentimentos das pessoas a respeito
do assunto. Ele e seu filho sofrem com a intolerância
religiosa. Inclusive, ele descobre na própria noiva,
Kathy (Dorothy Mcguirre), atitudes de indiferença e omissão.
Gentlemans Agreement, baseado no livro homônimo
de Laura Z. Hobson, expõe a anatomia do preconceito religioso
nos EUA do pós-guerra, demonstrando que ele se manifesta
não apenas de modo grotesco, mas de forma sutil nas pessoas
que ficam indiferentes e omissas às atitudes preconceituosas.
Além disso, como sugere o título original do filme,
o preconceito como fato sociológico não deixa
de ser um “acordo de cavalheiros” que oculta motivações
irracionais. Foi a experiência de ser judeu que
permitiu Phil Green apreender as múltiplas nuances do
drama humano do preconceito religioso. [topo]
(2006)
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