Sinopses de Filmes

V
"Visitor Q", de Takashi Miike (2001)
"Vive-se Uma Só Vez", de Fritz Lang (1937)

"A Vila", de M. Night Shyalaman (2004)
"Vinhas da Ira",
de John Ford (1940)
“Vidas Amargas”, de Elia Kazan (1955)

 

 

 

 

Voltar

 

"Visitor Q", de Takashi Miike (2001)

Produzido em 2001, este filme japonês possui leve inspiração em Teorema de Pier Paolo Pasolini. Visitor Q retrata, de forma bizarra, a crise da família burguesa no Japão. Kiyoshi Yamazaki, interpretado por Kenichi Endo, é um pai, de profissão jornalista, que busca realizar uma reportagem sobre violência e sexo no Japão. Ele começa tendo sexo com sua filha que é prostituta e filma seu filho sendo humilhado e agredido por colegas de escola. Por sua vez, em casa, seu filho agride a mãe, que é viciada em heroína e que se prostitui. A chega de um estranho visitante, o "visitor Q", que acompanha os comportamentos bizarros, provoca mudanças no seio da família Yamazaki. Conhecido por seu também bizarro Audition (de 1999) , Miike demonstra apreender, com vigor, o clima cultural no Japão pós-moderno. É através do bizarro e do perverso que Miike expõe a crise de civilização da sociedade do capital no Japão do século XXI, expresso na desagregação íntima da familia burguesa tradicional. O que nos assusta em Miike não são os mortos (como nos filmes de suspense e terror), mas sim os vivos com seus dramas bizarros, homens estranhados de si e dos outros, capazes das mais agudas perversões sexuais (em Visitor Q temos cenas de incesto e necrofilia ). A critica cultural em Visitor Q é tão explicita quanto as perversões sexuais que ele expõe. Logo na cena de abertura, em que Kyoshi, começa tendo sexo com sua filha, ela pergunta: "So you want to know about today's teenagers? ". E responde incisivamente: "They tell you the future of Japan. That hopeless future." No filme, é perceptível a onipresença, nas mãos do personagem Kiyoshi, da filmadora de video, do registro em imagens da sua degradação pessoal e familiar. Imagens, sexo e morte compõem a narrativa explicita do estranhamento de Visitor Q. Talvez, nesse ponto, os japoneses tendem a ser mais incisivos na critica do niilismo burguês (basta comparar O Ultimo Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci com Os Imperios dos Sentidos, de Nagisa Oshima). [topo]
(2005)

 

 

"Vive-se Uma Só Vez", de Fritz Lang (1937)


Em You Only Live Once, de 1937, Eddie Taylor (interpretado por Henry Fonda) é um delinqüente nos EUA da década de 1930, que ajudado pela noiva, Joan Graham (interpretado por Sylvia Sidney), secretaria da Defensoria Pública, consegue sair da prisão para tentar uma vida nova. Casa-se com Joan, que alimenta uma intensa paixão por ele. Entretanto, Eddie defronta-se com o preconceito social por ser ex-presidiário. É demitido do emprego numa transportadora e é acusado falsamente de assalto a banco com seis mortes. Preso, é condenado à cadeira elétrica. Um dos filmes primordiais da fase americana de Fritz Lang, diretor austríaco que se consagrou na Alemanha com os clássicos Metropolis (1927) e M (1931). O toque expressionista e a perspectiva pessimista da América da Grande Depressão permeiam a tela de Fritz Lang. No filme, “homens maus” são inocentes, mas condenados à morte; e “homens bons” cultivam vícios e fraquezas, tornando-se cidadãos respeitáveis. Na crise do capitalismo dos anos 1930, as contradições sociais se intensificam. Na verdade, tal temática do falso culpado (e dos inocentes de mãos sujas) tornou-se comum em muitos filmes de época. É um mote de critica social sutil da civilização do capital. Tal temática percorre a filmografia de Lang. Por exemplo, em 1936, com Fury, ele trata de um falso culpado a quem a raiva e o desejo de vingança estão a ponto de torná-lo um assassino; e em 1953, com The Big Heat (em português: Os Corruptos), o bondoso agente Dave Bannion torna-se um vingativo justiceiro quando sua mulher é assassinado pela máfia. Em Lang, o tema do falso culpado é a mera transfiguração da temática do individuo heróico em luta contra o sistema opressor. Ou ainda, a luta do homem contra a sociedade (o que não deixa de ser a temática do estranhamento). Em You Only Live Once, é perceptível uma critica visceral à sociedade burguesa e seu sistema de justiça criminal. Denuncia a incapacidade da ressocialização de presos e expõe a hipocrisia social no mundo capitalista. O final trágico expressa a impossibilidade da saída individual. [topo]
(2005)

 

 

"A Vila", de M. Night Shyalaman (2004)

Em plena civilização urbano-industrial, pessoas decidem fundar uma vila totalmente isolada, distante das cidades, onde pudessem cultivar valores das comunidades de pioneiros do passado, um tipo de falanstério, comunidade utópica, sem dinheiro e valores de novo tipo, administrada por anciãos, buscando fugir dos problemas da sociabilidade estranhada do mundo burguês. Entretanto, para impedir que os jovens saiam do território da vila, eles cultivam o medo, inventando mitos a respeito de criaturas da floresta que devoram aqueles que buscam se dirigir às cidades. Drama fantástico de critica sutil à sociabilidade degradada do capital que leva pessoas a buscarem no passado perdido, formas novos modos de vida alternativos à da civilização burguesa. Para sustentar a comunidade são obrigados a cultivar o medo recorrendo a artifícios fantásticos. A vila é uma cidadela do século 18 cercado pelo século 21. Suas imagens evocam a colonização dos EUA. Na verdade, colocam o problema da sobrevivência do sonho americano na época da crise estrutural da hegemonia global dos EUA. O jovem diretor americano, um dos melhores da atualidade, nos conduz a uma fábula poética (e trágica), de profundo lastro político, da civilização norte-americana, imersa em medos e sonhos perdidos. Suas imagens são melancólicas e os detalhes do filme sugerem mais do que as simples convenções do suspense de Hollywood.[topo]
(2005)

“Vinhas da Ira”, de John Ford (1940)

Em Oklahoma, na época da Depressão, Tom Joad (interpretado por Henry Fonda), o filho mais velho de uma família de trabalhadores rurais pobres retorna para casa, após cumprir pena por homicídio involuntário. Ao chegar em casa, depare-se com a expropriação da terras dos Joad pelo capital financeiro. Tal como outras famílias de pequenos produtores, os Joad são obrigados a migrarem, num pequeno caminhão, até a Califórnia onde dizem ser um lugar mais próspero e de maiores oportunidades de trabalho. Baseado na obra clássica de John Steinbeck, The Grapes of Wrath expõe de forma contundente, o processo de espoliação capitalista, atingindo pequenos produtores rurais obrigados a se proletarizarem nas grandes plantações na Califórnia. Num certo momento, Ford sugere a presença do Estado do New Deal, com seus campos de alojamentos limpos e decentes, construídos para abrigar trabalhadores pobres, migrantes e força de trabalho volante. Tais locais se contrastam com os territórios onde predomina a lógica bárbara do mercado. De certo modo, em The Grapes of Wrath, a solução apontada por Ford, bem no espírito do New Deal de Roosevelt, é a do capitalismo popular, baseado no reconhecimento da dignidade do povo, contra a degradação do mercado (como afirma a mãe Joad, interpretada com talento por Jane Darwell: “Nós somos o povo...”); e no apoio moral (e material) do Estado-providência, capaz de criar, nas situações de precarização da força de trabalho, políticas compensatórias para os despossuidos. [topo]
(2005)

 

 

 

“Vidas Amargas”, de Elia Kazan (1955)

 

No ano de 1917, numa fazenda da Califórnia, Adam Trask (Raymond Massey) é o patriarca rude e puritano que não esconde sua preferência pelo filho Aron (Richard Davalos), o que muito incomoda seu outro filho Caleb, conhecido como Cal (James Dean), que incompreendido e solitário toma atitudes que desagradam profundamente o pai. O passatempo de Cal é cruzar as cidades de Salinas e Monterey, viajando em cima do trem e passar a noite fora. Numa dessas noites, Cal procura a cafetina Kate (Jo Van Fleet, perfeita) em busca de descobrir sua verdadeira identidade. Ele desvenda um segredo que mudará a vida da família. A partir da descoberta que sua mãe está viva, Cal entra em um turbilhão de sentimentos antagônicos, como rancor e piedade, tristeza e euforia, que o levam a viver entre a urgência e o risco. Clássico do cinema, sob a direção magistral de Elia Kazan, adaptado da obra East of Eden, de John Steinbeck (e com claras ressonâncias biblicas) e com atuação genial do ator James Dean (é um de seus últimos papéis no cinema). "Vidas Amargas" é um intenso drama moral que expõe a busca desesperada de um jovem pela identidade pessoal, contra os fantasmas inconscientes do passado familiar. O "marginal" Cal é o único que decide buscar a verdade oculta da familia Trask, desmitificando sua ideologia íntima. Na verdade, é através de sua relação ambigua (e ambivalente) com o pai, que Cal buscará se afirmar como homem. Após Cal expor o segredo da familia, o irmão Aron em estado de choque, enlouquece e parte para a guerra. Cal tem uma intensa discussão com o pai, que sofre um derrame. Cal decide não mais abandonar o pai. No leito, Cal busca reconciliar-se com ele. [topo]