Sinopses de Filmes

E
"Emmanuelle", de Just Jaeckin (1974)
"O Efeito Borboleta", de Eric Bress /J. Mackye Gruber (2004)
“Entr’Acte”, de René Clair (1924)
"Edificio Master", de Eduardo Coutinho (2002)
“Encurralado”, de Steve Spielberg (1971)

“Edward Mãos de Tesoura”, de Tim Burton (1990)
“O Estranho”, de Orson Welles (1946)
"Exílios”, de Tony Gatlif (2004)

 

 

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"Emmanuelle", de Just Jaeckin (1974)

 

 

Emmanuelle, interpretada por Silvia Kristel, jovem esposa de diplomata, incitada pelo marido, vive novas experiências eróticas em Bangock, na Tailândia. Drama erótico clássico dos anos 1970. Rotina, tédio e monotonia dos relacionamentos amorosos na sociedade burguesa encontram válvula de escape em casos extraconjugais, experiências lésbicas e heterossexuais. Emmanuelle é lançado na primeira metade da década de 1970, o período de crise estrutural do capital, onde o vazio existencial, expresso em dramas íntimos, assume dimensões explicitas (que o diga, entre outros, o clássico O Ultimo Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci, de 1972, ou mesmo o porno-trash Deep Throat, de 1973). Emmanuelle sugere a perda das ilusões de uma vida amorosa plena de sentido, com o sexo permissivo, a experiência sensual e o prazer erótico, sendo meras tentativas de reencantar uma ordem social agudamente fetichizada. De certo modo, Emmanuelle é um filme cético sobre a viabilidade de sentimentos profundos e duradouros e de laços afetivos plenos na sociedade burguesa. Na verdade, tudo é fluido e fugaz. Não há lugar para o amor, mas sim apenas para instrumentalidade de emoções. Consomem-se corpos como se consome um bom vinho francês, com classe e estilo. Por isso, é possível dizer que, Emmanuelle é permeado de um anti-romantismo profundo, expresso, por exemplo, no desprendimento afetivo de Bee (interpretado por Marika Green), mulher pela qual Emmanuelle se apaixona, mas que não acredita no amor. O culto da efemeridade e ao mesmo tempo, da entrego erótica total e polimorfa, caracteriza o filme de Just Jaeckin. A entrega dos corpos parece ser total, mas é mera aparência. Por exemplo: Marie-Ange expressa a jovem imersa no prazer sem tabus, sem inibição. Mas sua sexualidade parece ser tão fluida quanto superficial (poderia ser diferente na sociedade da mercadoria?). Entretanto a "sexualidade liquida", como diria Zygmut Baumann, talvez expresse subjetividades complexas, buscando realizar potencialidades afetivo-sexuais, limitadas (e invertidas) pela ordem do capital. O ambiente exótico da Tailândia, permeado de tradição e pobreza, se contraste com personalidades prazerosamente dilaceradas pela crise da modernidade burguesa.[topo]
(2005)

 

 


"O Efeito Borboleta", de Eric Bress /J. Mackye Gruber (2004)



Evan Treborn, interpretado por Ashton Kutcher, é um jovem que tentando superar traumas de infância, busca recuperar suas memórias através da leitura de seu diário. Consegue desenvolver uma técnica mental para voltar ao passado, como criança, buscando alterar os acontecimentos traumáticos. Mas descobre que, ao alterar pequenos detalhes do seu passado, provoca drásticas mudanças no tempo presente. Suspense que utiliza o típico mote de volta para o passado. Só que, nesse caso, o que propicia a viagem fantástica para o passado não é nenhuma máquina do tempo, mas sim, dotes mentais extraordinários do personagem principal. Utilizando-se da teoria do caos, busca construir uma narrativa lógica, embora inverossímil. A temporalidade do capital é uma temporalidade fragmentária. As narrativas de volta para o passado são expressões estéticas fantásticas desta estrutura de sociabilidade do capital. A fantasia da volta para o passado tende a expressar, de certo modo, o anseio de controle sobre nossa vida pessoal (o que é difícil na sociedade do capital, baseada na constante despersonalização das individualidades humano-genéricas). A agudização do estranhamento, e do fetichismo, tende a impulsionar o gosto estético pelas narrativas fantásticas. The Butterfly Effect leva a extremos a fantasia de volta ao passado, adotando certo viés subjetivista em sua lógica narrativa (talvez, incorporando o fascinio pelas ciências cognitivas ou neurociências). No filme, não existe nenhum cientista louco ou qualquer máquina do tempo. São tão-somente os dons mentais sobrenaturais do personagem principal, que, ao alterar detalhes de sua vida pessoal, altera toda sua cadeia de relações pessoais. Além disso, busca expor, através desta trama narativa fantástica, a lógica da teoria do caos. [topo]
(2005)


“Entr’Acte”, de René Clair (1924)

 

Curta-metragem de René Clair e experimento de um cinema surrealista, que nos apresenta um jogo de imagens em movimento que sugerem o ballet da burguesia e de seu mundo social caótico, imerso em prenúncios de morte. A sucessão de imagens conclui-se com um cortejo fúnebre que atravessa Paris. De repente, perde-se o controle do carro funerário que se desloca pelas largas avenidas de uma Paris antiga. No final, o morto ressurge e, num passe de mágica, faz desaparecer a todos. Cada imagem alegórica sugere um mundo em descontrole, onde a burguesia flerta com a morte e os mortos conduzem os vivos. [topo]
(2005)

 

 

 

 

“Edifício Master”, de Eduardo Coutinho (2002)

Documentário brasileiro que retrata, através de depoimentos, a vida de moradores do Condomínio Master, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Eduardo Coutinho e sua equipe entrevistaram 37 moradores e conseguiram extrair histórias íntimas e reveladoras de suas vidas. Os moradores expressam seus dramas (e tragédias) pessoais, com emoção e sensibilidade. De forma magistral, Coutinho consegue retirar das pessoas, preciosa declarações de vida e de morte, de sonhos e frustrações. Antes de ser expressão de dramas pessoal, Edifício Máster é um relato sociológico de um País capitalista de modernização inconclusa, sem perspectivas de desenvolvimento, imerso em nostalgia. De certo modo, os jovens que aparecem expressam, através de seus dramas pessoais, a falta de perspectivas de futuro. Por exemplo, uma das jovens diz ter sociofobia (foto acima). Outra é mãe solteira e garota de programa. E a última, estudante e solitária. Aparece também uma dupla de jovens artistas de Curitiba (PR) que buscam um lugar ao sol no show-business carioca. No documentário de Coutinho é flagrante a presença de casais de meia-idade, homens e mulheres solitárias, idosos aposentados, imersos na memória, de um tempo que passou. É no passado que a maioria das pessoas diz ter vínculos de sucesso, próximos das elites sociais. Por exemplo, um dos personagens do Edifico Master trabalhou nos Estados Unidos e hoje, como lembrança de ter sido quase cidadão norte-americano, canta Frank Sinatra, que um dia chegou a conhecer pessoalmente. Outra, chegou a atender a esposa de Roberto Marinho e teve contato com a high-society carioca. O tempo presente é em certos casos de frustração ou fracasso; em outros depoimentos, de nostalgia e lembrança, pois o Edifico Máster parece ser a última estação da vida para a maior parte dos depoimentos pessoais. Por exemplo, o depoimento de ex-ator de cinema da boca do lixo, que se aposentou por invalidez, devido a acidente de trabalho. Enfim, são muitos os dramas pessoais e cada personagem vivo é pedaço de um projeto de vida (e subdesenvolvimento) da Nação. De certo modo, Edifico Master é uma metáfora da sociedade brasileira na virada para o século XXI. [topo]
(2005)

 

 

“Encurralado”, de Steve Spielberg (1971)

 


David Mann, interpretado por Dennis Weaver, é um homem de negócios, que, dirigindo seu automóvel numa estrada secundária da Califórnia, de repente, se vê perseguido por um caminhão de grande porte. Depois de algum tempo, ele chega a conclusão de que o motorista do caminhão, sem muitas explicações, pretende matá-lo. Primeiro filme de Steven Spielberg (com roteiro de Richard Matheson), que trata, de certo modo, do estranhamento entre Homem e Máquina. O sobrenome Mann é sugestivo e Duel é quase uma variação do clássico “Os Pássaros”, de Alfred Hitchcock. Nesse caso, o estranho antagonista é um caminhão, símbolo da civilização fordista. O clima de suspense ocorre num crescendo trágico que se traduz no enfrentamento final entre David Mann e seu oponente misterioso e desconhecido. É curioso como Spielberg constrói o personagem David Mann. Ele é um homem angustiado, que perdeu o controle de si e de sua família (como ele se expressa no diálogo acima) e que, de repente, encontra-se diante de um oponente estranho e misterioso (em nenhum momento ele consegue identificar o motorista do caminhão). David Mann é a própria representação do individuo obliterado, confuso e deslocado pelo mundo social estranhado do capital. [topo]
(2006)

 

“Edward Mãos de Tesoura”, de Tim Burton (1990)


Uma vendedora da Avon, Pegg Boggs (interpretado por Dianne Weist) decide bater na porta de uma velha mansão abandonada e acaba encontrando um garoto chamado Edward, que tem tesouras no lugar das mãos. Vendo que o garoto está sozinho, ela decide levá-lo para viver em sua casa. Apesar dos problemas para se adaptar, Edward encontra seu lugar como cabeleireiro e jardineiro da pequena cidade onde vai morar. Nutre uma paixão platônica pela jovem filha de Dianne Weest (Winona Ryder), incitando ciúmes no namorado dela que envolve Edwards num ato de assalto. Logo a cidade estará contra ele, julgando-o um monstro temerário. Através de flash-backs sabemos que Edward é uma criatura incompleta, criada por um inventor (Vincent Price) que morreu antes de dar ao estranho ser mãos capazes de substituir as enormes lâminas no lugar delas. É através do jovem monstro solitário, generoso e desastrado que vislumbramos a natureza egoísta e preconceituosa da sociedade de massa, uma “clean society”, com casas-padrão, tão vazia quanto luminosa em cores pasteis, de aparência alegre e feliz. É como se o jovem "monstro" Edward Scissorhands desconcertasse a harmonia primordial, explicitando o caráter fetichizado da vida das pessoas, imersas numa existência de simulacro. Em Edward Scissorhands as mulheres parecem solitárias, carentes, vazias e os jovens, fúteis e delinqüentes. As mulheres possuem um papel central no filme, com destaque para a vendedora de Avon. É através dela que Edward Mãos-de-Tesoura é salvo de sua mansão escura. A presença de uma vendedora de cosmético é uma critica sutil à sociedade da aparencia , isto é, a sociedade do fetiche-mercadoria. Além disso, outras mulheres aparecem no papel de admiradoras (e inimigas) de Edward. Enfim, a sociedade cosmética de Edward Scissorhands parece ser uma sociedade feminina. A cenografia de Tim Burton é fabulosa, com destaque para o contraste entre a cidade e a mansão escura de estilo gótica, no alto da montanha, onde moravam Edward e o velho inventor. [topo]
(2006)

 

“O Estranho”, de Orson Welles (1946)

 

 

Orson Welles, interpreta um criminoso de guerra nazista, Franz Kindler, que depois da guerra foge para os Estados Unidos e assume o nome de Charles Rankin. Morando na pacata cidade de Harper, torna-se noivo da insuspeitável filha do juiz presidente do Supremo Tribunal Federal, Mary Longstreet (Loretta Young), posando como professor universitário. Franz Kindler tinha álibi perfeito. Ninguém pensaria em procurar por um notório criminoso nazista no sagrado recinto da Harper's School... Exceto o agente federal Wilson (interpretado por Edward G. Robinson). Foi num jantar em familia que o professor de história Charles Rankin se traiu, ao observar que “Marx não era alemão, mas judeu.” (vide fato acima). Desfiando uma catilinária sobre a impossibilidade de um mundo pacífico, terminou sugerindo o que lhe parecia a solução do problema humano: extermínio. O agente federal nem desconfiaria que o pacato professor de história fosse um crimonoso nazista, se ele tivesse se contido (só os alemães nazistas não conferiam aos judeus a nacionalidade alemã). Enfim, Kindler era um sujeito extremamente vaidoso de sua inteligência e de seu poder de sedução, mas, por ironia, derrapou na própria língua. Um detalhe do personagem de Orson Welles: é um homem obcecado pelo tempo, tanto que cuida, com denodo, do antigo relógio da torre da catedral da pequena cidade de Harper, no Estado de Connecticut, inclusive fazendo-o funcionar, para desespero dos pacatos moradores de Harper. [topo]
(2006)

 

 

 

"Exílios”, de Tony Gatlif (2004)

 

Um casal de jovens franceses, Zano (Romain Duris) e Naima (Lubna Azabal), de origem argelina resolve conhecer a terra de seus pais. Eles atravessam a França, Espanha e Marrocos, antes de chegarem à Argélia. A jornada serve para os protagonistas reencontrarem suas lembranças: ele, a família que resta em Argel, após o exílio forçado do avô músico; ela, a origem árabe, marcante no nome, que o pai negava ao não conversar com a filha na língua natal. Num mundo de imigração, coloca-se o problema candente da identidade e da memória afetiva. Na verdade, Zano e Naima buscam criar laços, fomentar relacionamentos com todos os “ausentes”, esquecidos e marginalizados que cruzam seu caminho. É interessante a cena em que eles na Argélia caminham sozinhos na direção oposta a da multidão, misturando-se com ela. No final do filme, Zano e Naima prosseguem, juntos, caminhando não se sabe para onde – já que, de fato, o destino é menos importante que o deslocamento em si, das mulheres e dos homens anônimos que nele surgem. "Exilios" é um road movie curioso - existe enquanto viagem dupla, e não individual, pois o reconhecimento do casal nos Outros passa pela comunhão entre Zano e Naima. O diretor Tony Gatlif (prêmio de melhor direção no Festival de Cannes) promove a migração inversa dos personagens, os quais, em busca das lembranças perdidas, entram em contato com a realidade sócio-cultural árabe - que, a princípio estranha, acaba por construir a identidade e a memória afetiva do casal. Apesar disso, Naima, num certo momento, descobre que é estrangeira em qualquer lugar. [topo]