Sinopses de Filmes

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"Dogville", de Lars von Trier(2004)
"Domésticas", de Fernando Meirelles e Nando Olival (2001)

"O Diabo a Quatro", de Leo McCarey (1933)
"Sob o Domínio do Mêdo", de Sam Peckinpah (1971)
“O Dia Em Que a Terra Parou”,
de Robert Wise (1951)
"O Despertar da Besta",
de José Mojica Marins (1970)
"Daqui a Cem Anos", de William Cameron Menzies (1936)
"Depois que Otar Partiu”, de Julie Bertucelli (2003)

 

 

 

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"Dogville", de Lars Von Trier (2004)

 

 

Na época da Grande Depressão, uma bela mulher, Grace, interpretada por Nicole Kidman, fugindo de gângsteres, recebe a ajuda da população de uma pequena cidade nas Montanhas Rochosas nos EUA (Dogville). Aos poucos, ela torna-se cativa da miséria humana de Dogville, sendo explorada e abusada sexualmente pelos moradores em troca do silêncio da cidade diante da policia e dos gângsteres. A suposta generosidade e hospitalidade de Dogville se interverte em opressão e agudo estranhamento. Critica visceral da sociabilidade tacanha da América profunda (aquela que elegeu George Bush), onde pessoas frágeis estão imersas em medos, crueldades e perversões ocultas. A chegada de Grace, a estranha fugitiva, a tornará bode expiatório destas misérias provincianas. Talvez Dogville seja o inconsciente perverso da América paroquial. Diante da monstruosa humanidade desta pequena cidade, só restará a Grace eliminar Dogville para que o mundo se torne um pouco melhor (seria possível um paralelo entre Grace e Grete Samsa, personagem d conto A Metamorfose, de Franz Kafka, que diante da monstruosidade de Gregor, seu irmão, é obrigada a eliminá-lo?). O filme de Trier possui um final trágico e pessimista, painel da falsa moralidade dos tempos da globalização neoliberal. No estilo de "Os pecados de todos nós" (Reflections in a Golden Eye), de John Huston (1967), ou até mesmo “Caçada Humana” (The Chase), de Arthur Penn (1966), Dogville, de Lars von Trier, é um filme de crise da sociabilidade americana, exposto por Trier em "Dançando no Escuro" (Dancer in The Dark), de 2000. Em Dogville, o contéudo se imprime na forma estética. Trier reinventa o cinema, expressando a narrativa filmica através de uma forma hibrida (teatro filmado). Mas ao desconstruir a linguagem da indústria cultural de Hollywood, à titulo de fazer a critica visceral do americanismo, Lars von Trier tende a descontruir a própria linguagem do cinema. Na verdade, em Dogville, a forma estética é parte intrínseca do conteúdo de critica corrosiva à sociabilidade da América do espetáculo. A narrativa, dividida em atos, tal como no teatro, e com apoio de um narrador em off, é representada num palco, com a pequena cidade de Dogville sendo constituida por paredes imaginárias.[topo]
(2004)

 

"Domésticas", de Fernando Meirelles e Nando Olival (2001)

Drama de trabalhadoras domésticas na cidade de São Paulo, mostradas a partir do cotidiano de Cida, Roxane, Quitéria, Raimunda e Créo. Uma quer se casar; a outra é casada, mas sonha com um marido melhor; uma sonha em ser artista de novela e outra acredita que tem por missão na Terra servir a Deus e à sua patroa. Todas têm sonhos distintos, mas vivem a mesma realidade: trabalhar como empregada doméstica. Conduzido com humor (e uma trilha musical dos hits populares do Brasil brega dos anos 1970), o filme de Meirelles e Olival retrata o universo particular desta categoria de trabalhadoras domesticas. É curioso que, em nenhum momento, aparecem patrões ou patroas. A narrativa de As Domésticas se desenvolve segundo a ótica contingente das classes subalternas, dos debaixo, com seus anseios e sonhos, expectativas e frustrações. Não aparecem situações de luta social por direitos, o que sugere que o filme se detém na epiderme da consciência de classe contingente, expressando, deste modo, a fragmentação das perspectivas de vida e trajetórias das "domésticas" (quase como um destino, como observa na palavra final a doméstica Roxane). Do mesmo modo, ao retratar Zé Pequeno (em Cidade de Deus), Meirelles tratou sua sina de bandido quase como destino. É baseado na peça de teatro de Renata Melo. [topo].
(2005)

 

"O Diabo a Quatro", de Leo McCarey (1933)

 

 

O pequeno país Freedonia está em enorme crise financeira. A Sra. Teadstale aceita doar 20 milhões de dólares aos caixas se o excêntrico e maluco Rufus T. Firefly (Groucho Marx) for eleito presidente. Para piorar as coisas, o país vizinho Sylvania envia dois espiões (Chicolini e Pinky, respectivamente Chico e Harpo Marx) para obterem informação sigilosa, enquanto uma guerra pode ser travada se os líderes dos dois países não decidirem quem casará com a Sra. Teasdale. Duck Soup é puro humor anárquico dos Irmãos Marx. Através de diálogos tão hilariantes e corrosivos com as instituições políticas e morais da sociedade burguesa, Groucho, Chico e Harpo (e Zeppo), divertem o público em plena depressão capitalista da década de 1930. De certo modo, é um humor anárquico e mordaz com a elite política e militar. O espírito belicista pairava no ar na década de 1930. Parecia prenunciar, em 1933, a verdadeira saída para a grande depressão capitalista – a guerra. [topo]
(2005)

 

 

 

 

"Sob o Domínio do Mêdo", de Sam Peckinpah (1971)



O jovem matemático norte-americano, David Sumner, interpretado por Dustin Hoffmann, decide ir para o interior da Inglaterra, terra natal de sua esposa Amy (Susan George), em busca de tranqüilidade para concluir um livro que está escrevendo. A receptividade não é nada calorosa. Entre os empregados que contratou para reforma de sua garagem está Charles Venner (Del Hanney), ex-amante de Amy. Na verdade, ela torna-se objeto de desejo do grupo (a cena de estupro de Amy é uma das mais violentas e instigantes do cinema de Hollywood). Mas o que irá explicitar a violência em estado puro, latente desde os primeiros minutos do filme, é quando o tímido David decide ajudar Henry Niles, atropelado acidentalmete por ele, numa noite de neblina. Niles, fugia de Tom Hedden e seus capangas, que decidem fazer vingança com suas próprias mãos (Niles matara acidentalmente a filha de Tom Heden). Cercado em sua casa de campo, David decide obcecadamente defender seu lar e o direito de Niles por justiça. Num crescendo de violência, Peckinpah expõe, com desenvoltura, os nexos da barbárie social. Apesar da narrativa de Straw Dogs ocorrer numa pacata localidade do interior da Inglaterra, a violência está latente em cada imagem (e detalhe) do filme. É como se ele insistisse que a civilização do capital destila violência em qualquer recanto da Terra. Em Straw Dogs existe um suspense que sufoca o público. Tal como uma magistral sinfonia da barbárie social, Peckinpah expõe as vísceras de uma sociabilidade desumanizada, onde o que persiste (e insiste) é o desejo animal e a violência primitiva; um estado de natureza, onde, diante da crise das instituições da Lei e da Ordem, o que vigora é a lei do mais forte. O jovem matemático, tímido e covarde, David Sumner, interpertado magistralmente por Dustin Hoffman, é o herói de Straw Dogs, protagonista da civilização, que preserva os valores da Lei e do Direito, e que resiste (e vence ) os bárbaros interiores. A violência de Peckinpah possui um conteúdo social, pois expressa, de forma sutil, uma critica da civilização do capital na época de sua crise estrutural. O que Peckinpah, o "poeta da violência", nos apresenta, é uma metafísica social onde a violência é a condição humana no sistema desumanizado do capital. Isto é, neste sistema sócio-metabólico, somos meros “cães de palha” (Straw Dogs), aptos apenas ao sacrifício (como diria o filosofo chinês Lao Tse).
[topo]
(2005)

 

 

“O Dia Em Que a Terra Parou”, de Robert Wise (1951)

 

 

Clássico de ficção-científica, fantasia pacifista sobre um extraterrestre, Klaatu/Carpenter (interpretado por Michael Rennie), que vem à Terra de disco voador, ajudado por um robô (Gort), para exigir que o mundo pare com as guerras e com a corrida armamentista a fim de evitar uma catástrofe. Para demonstar seu poder superior, Klaatu interrompe, por um tempo, todas as atividades da Terra). The Day the Earth Stood Still foi o primeiro filme a não mostrar um ser extraterrestre como invasor. De repente, nós, terrestre é que aparecemos como vilões, possuídos pelo medo, perseguindo um espectro de nossos próprios temores. É o outro estranho que tem a capacidade de desvelar a miséria (e os paradoxos) da civilização tecnológica e da “guerra fria”. A busca do dialogo entre os povos é bloqueada pelos interesses particularista, ressentimentos e temores de seus Estados-nação. [topo]
(2005)

 

"O Despertar da Besta", de José Mojica Marins (1970)

 

 

É o mais maldito dos filmes de José Mojica Marins. Produzido em 1969 com o título de “Ritual dos Sádicos” foi imediatamente vetado pela censura do então governo militar, que não satisfeito em impedir a exibição do filme, pretendia também destruir todas as cópias e o negativo. Em 1982 foi recuperado e exibido em mostras e festivais como “O Despertar da Besta”. Não teve lançamento comercial. O filme trata de um renomado psiquiatra que injeta doses de LSD em quatro voluntários com o objetivo de estudar os efeitos das drogas (ou do tóxico) sob o impacto da imagem de Zé do Caixão (Mojica faz uso da sua popularidade, então no auge). Em pleno apogeu do amor livre, das drogas psicodélicas e dos hippies, José Mojica Marins concebeu seu filme mais contundente, revoltado e arrebatador através de metalinguagem para analisar o efeito de seu polêmico personagem no inconsciente coletivo. O personagem aparece de maneira diferente nos delírios psicodélicos e multicoloridos de cada um, misturando sexo, perversão, sadismo e misoginia. Finalmente, interrogado por um grupo de intelectuais, o psiquiatra chega à conclusão de que drogas não são responsáveis pela perversão de seus usuários, mas apenas é um fator de liberação de suas frustrações. Se no filme de 1964, (“À Meia-noite Levarei Sua Alma”), o horror do Zé do Caixão era mais sutil, no filme de 1970, o pesadelo torna-se mais apavorante, até mesmo pela utilização de cor apenas nas cenas no inferno. Um detalhe: em 1970, a ditadura militar atingiu o ápice da repressão política. Ironias não faltam ao discurso de Mojica. Dessa forma, ele estabelece uma lógica teatral, até circense, onde todo o seu cinema depende sobretudo da sua atuação e das atmosferas que cria. O personagem Zé do Caixão, criado por José Mojica Marins, é a construção genial de um tipo bizarro do horror fantástico que reflete, em si, o estranho mundo social de uma ordem burguesa hipertardia de origem colonial. [topo] (2006)

 

 

 

 

"Daqui a Cem Anos", de William Cameron Menzies (1936)



Em 1936, uma guerra mundial tem início, perdurando por muitas décadas até que muitas das pessoas sobreviventes, a maioria nascida durante a guerra, nem sabem quem começou o conflito ou quais as suas razões. Não existem mais a manufatura de produtos e a sociedade se transformou em comunidades primitivas localizadas. Em 1966, uma enorme praga se apossou da humanidade e apenas um pequeno grupo de pessoas conseguiram sobreviver. Certo dia, um estranho e misterioso avião sofre um acidente e cai próximo a uma dessas comunidades isoladas e o piloto sobrevivente revela a eles que existe uma organização que está reconstruindo a civilização e que estão aos poucos percorrendo o mundo tentando reorganizar os grupos de sobreviventes da guerra. Após algumas décadas, a civilização torna-se novamente forte e a população mundial vive em enorme e belas cidades subterrâneas. Em 2035, época da primeira viagem do Homem à Lua, um grupo de rebeldes que é contra o progresso, que segundo eles foi o verdadeiro motivo responsável pelo início da guerra cem anos antes, se organiza e torna-se violento, tentando incentivar uma revolta. Filme clássico da ficção-cientifica que elabora uma fantasia visionária sobre o destino da civilização diante da ameaça da guerra mundial (o que acontecia, de fato, em 1936, com a ameaça fascista e a escalada armamentista no Ocidente). O significado da utilização dos avanços tecnológicos para a guerra e a disseminação da barbárie social (com a proliferação de pragas mortais) se contrasta com outra percepção: a ciência à serviço da civilização e da conquista da Natureza (e do Universo) pelo homem. A fantasia político-social de Menzies expõe a dialética entre barbárie civilização, ciência e progresso humano (temas cruciais que marcaram a civilização do capital no século XX).[topo]

 

 


"Depois que Otar Partiu”, de Julie Bertucelli (2003)

 

 

Ada, uma jovem de 25 anos, vive em Tbilisi, a capital da Geórgia pós-soviética, num pequeno apartamento com Marina, a mãe, e Eka, a avó. Os ânimos às vezes se exaltam entre elas e o menor gesto da vida cotidiana pode acirrar as tensões. São tempos difíceis, de escassez e de falta de expectativas de vida para a juventude das ex-repúblicas soviéticas. Suas rotinas apenas mudam com as notícias de Otar, o filho adorado de Eka, um médico que foi tentar a vida em Paris , onde só consegue sobreviver como pedreiro. Otar tornou-se um mito na família e suas cartas chegam como mensagens de sonho e esperança. Sua mãe o venera. De repente, Ada e Marina se vêem obrigadas a ocultar de Eka, a noticia da morte de Otar, ocorrida num acidente de trabalho. Tal como o jovem Alexander em “Adeus Lênin”, mãe e filha são obrigadas a simular que Otar vive e continua escrevendo de Paris. Entretanto, a mentira acaba transformando a vida delas. Filme sensível que expõe a crise de trabalho e de vida nas ex-repúblicas soviética, na perspectiva de três gerações de mulheres (a filha Ada, a mãe Marina e a avó Eka). É um drama de mulheres num mundo social em crise de escassez, de homens emigrados e de vidas fragmentadas e precárias. Por outro lado, como o filme “Adeus Lênin”, sugere uma sutil reflexão sobre a experiência do “socialismo real” (como expressa na fala acima do namorado de Marina). [topo]