"O
Terminal", de Steven Spielberg (2004)
Viktor
Navorski (interpretado por Tom Hanks) é um cidadão
da Europa Oriental que viaja rumo a Nova York, quando seu país
sofre um golpe de Estado, o que invalida seu passaporte. Ao
chegar ao Aeroporto JFK, em Nova York, Viktor não consegue
autorização para entrar nos Estados Unidos. Sem
poder retornar à sua terra natal, já que as fronteiras
foram fechadas após o golpe, ele passa a improvisar seus
dias e noites no próprio Aeroporto, à espera que
a situação se resolva, descobrindo o complexo
mundo do terminal onde está preso. The Terminal
é uma crítica sutil ao Sistema que oprime
o homem comum, imerso em sonhos e ideais, como é o caso
de Viktor, isolado entre a crise política em seu País
e a burocracia da Alfândega dos EUA (um detalhe: Viktor
viaja para os EUA apenas para cumprir uma promessa, feita ao
pai falecido, de conseguir a assinatura de um jazzista famoso).
Nos interstícios da “máquina do mundo”,
Spielberg busca, com humor, apresentar pessoas simples, imigrantes
clandestinos, migrantes do Leste Europeu, proletários,
resignados, mas solidários; homens e mulheres criativos,
de anseios nobres, embora iludidos, e sempre dispostos a cultivar
esperança. No bom estilo de Hollywood, Spielberg nos
diz que, homens maus existem, mas são meras
exceções; o Sistema tem seu lado bom e a integridade
pessoal é possível. [topo]
(2005)
"THX
1138", de George Lucas (1971)
No
século 25, THX 1138 é um operário de uma
sociedade-colméia de controle social total, estilo 1984,
de George Orwell e Admirável Mundo Novo, de
Aldous Huxley, que divide seu cubículo com uma fêmea,
LUH 3417. De repente, passam a rejeitar a cota diária
da droga que são obrigados a tomar e experimentam um
romance (que é proibido). THX 1138 é acusado de
crime capital e condenado a prisão perpétua. Impressiona
a cenografia com tomadas de cena em branco sobre branco, sugerindo
ambiente estéril e frio, que transmitem o isolamento
entorpecente deste mundo futuro. Na sociedade do capital do
século 25, homens e mulheres operários e empregados,
trabalham em estado de letargia causada pelo uso de drogas tranqüilizantes.
Não têm nomes, identidades, necessidades, nem memória
do mundo que abandonaram. Parábola amarga, "THX
1138" é a síntese das distopias tecnológicas
do século XX. Mas, George Lucas sugere que, mesmo o homem
mais comum, um operário imerso na lógica do produtivismo
(em pleno século 25!) é um insurgente contra o
agudo estranhamento. THX 1138, herói anônimo, foge
desta angustiante sociedade para se encontrar sob o céu
de uma nova era. Perplexo... mas triunfante! [topo]
(2005)
“Titanic”,
de James Cameron (1997)
Jack
Dawson (DiCaprio) é o jovem arrivista que ganhou o bilhete
para viagem no Titanic, tornando-se passageiro de terceira classe
no luxuoso transatlântico. Como passageiros do Titanis
embarcam também Rose DeWitt (Winslet), jovem da alta
sociedade, sensível e expansiva, de uma família
com pouco dinheiro mas com toda a classe, obrigada a casar,
contra a sua vontade, com Cal Hockley (Zane), rico e desprezível
burguês norte-americano. Carl e a mãe de Rose a
acompanham para a viagem à América. Angustiada
pela mediocridade da vida burguesa, Rose decide suicidar-se
e Jack a salva. Da amizade surge um romance proibido. O drama
trágico e romântico de Jack e Rose ocorre às
vésperas do naufrágio do transatlântico.
Titanic é a alegoria do mundo burguês
da belle époque, afluente, exuberante e auto-confiante.
Por trás da história de amor entre Jack e Rose
ocultam-se alegorias e metáforas sobre a sociedade burguesa
pré-1914. Por exemplo: a aguda divisão de classes
sociais que caracteriza a ordem burguesa imprime a sua marca
na divisão entre passageiros de primeira, segunda e terceira
categoria do Titanic. O proletariado imigrante acomoda-se quase
no sótão do transatlatico. Por outro lado, a angústia
de Rose explica-se pelo sentimento das camadas pequeno-burguesas
mais sensivéis, insatisfeitas com a banalidade da vida
capitalista. Na verdade, são tempos de agudas contradições
entre a afluência do mundo burguês, a persistência
da velha ordem agrário-aristocrática e a busca
de uma vida plena de sentido. [topo]
(2006)
“A
Tortura do Silencio”, de
Alfred Hithcock (1953)
O padre Michael Logan (interpretado por Montgomery
Clift), ouve a confissão de um assassino, Otto Kelar,
que trabalha como zelador em uma igreja católica. Kelar
ao fazer serviços de jardinagens, aproveitou-se da casa
vazia e decidiu realizar um assalto, porém foi pego pelo
proprietário e teve que matá-lo. Logo a seguir,
Kelar confessa seu crime ao padre Logan, que não pode,
entretanto, revelar à polícia. As normas da Igreja
impedem Logan de falar - mesmo que seja em sua própria
defesa. As investigações apontam o padre como
um possível suspeito, tendo em vista que Anne Baxter,
mulher do homem assassinado, foi antiga paixão de Logan.
Em "A tortura do silêncio"(1952) e "O
homem errado"(1957), Hitchock trata com maestria o
tema cristão do homem acusado por um crime que não
cometeu - é o drama tragico da transferência de
culpa. De certo modo, o suspense do mestre Hithcock é
um recurso genial de manipulação do espectador,
buscando sugerir que a realidade não é
o que parece ser. Existe, deste modo, através
do suspense hitchockiano um fascínio sinistro pela dialética
contingente da vida burguesa [topo].
“Terra
Estrangeira”, de Walter
Salles (1995)
Paco
(Fernando Alves Pinto) é um jovem de 20 anos cuja morte
da mãe, abalada com o confisco monetário do Plano
Collor, o deixa sem prumo. Decide ir para o exterior conhecer,
na Espanha, a pequena cidade natal da mãe. Enquanto isso,
em Lisboa, Alex (Fernanda Torres) está igualmente à
deriva, enredada em um complicado namoro com Miguel (Alexandre
Torres), um músico frustrado que sobrevive à custa
de contrabando. Paco e Alex, tipos de classe média,
são duas facetas da mesma pessoa, pois espelham tipos
diversos de exílio. O mais visível, é claro,
é o exílio econômico, já que ambos
enfrentam dificuldades para se manter durante os anos difíceis
de Collor no poder. Entretanto, existe um tipo mais íntimo
e mais profundo de exílio: a busca desesperada por um
lar, por uma raiz, no mundo da globalização neoliberal.
A classe média proletarizada que imigra e cai
nas mãos das redes criminosas é um tema social
candente que Salles expõe de modo poético. Na
década neoliberal - os anos 1990 - o Brasil, pela primeira
vez, tornou-se um país de emigrantes. Um destaque para
a bela fotografia de Walter Carvalho em preto&branco e a
melodia “Vapor Barato” (cantada por Gal Costa),
um feliz improviso que dá a nota triste e definitiva
de encerramento ao filme. A cena acima é bastante sugestiva
- numa praia distante do litoral português, uma embarcação
abandonoda. Alex diz para Paco: "Podiamos encalhar aqui...como
ela."[topo].
“Trainspotting
– Sem Limites”, de Danny Boyle (1996)
Filme
cínico e bem-humorado que retrata o cotidiano de jovens
de familias de classe média proletária, viciados
em heróina na cidade de Edimburgo, Escócia. Trainspotting
(que significa mais ou menos “matar o tempo vendo trens
passarem”, atividade que viciados em heroína na
Escócia se dedicam a fazer enquanto curtem o barato da
droga) trata, de modo realista, do cotidiano de viciados em
droga pesadas: das viagens alucinógenas que “parecem
mil orgasmos” à inadaptação social;
da dor física provocada pela dependência à
morte banal (o filme contém cenas degradantes, como,
por exemplo, Renton mergulhando em uma privada imunda para encontrar
um supositório de heroína ou Spud acordando de
ressaca em meio a uma poça de cocô). Ranton (Ewan
McGregor) é o jovem viciado que decide largar o vicio.
Mas até abandonar o cotidiano de drogado, enfrenta situações
degradantes. Os viciados da gang de Ranton são
pessoas amorais e egoístas. Entretanto, o filme mostra
também que eles se compreendem. Transpotting
utiliza linguagem pop (visual clip music embalado,
por exemplo, ao som da “Perfect Day”, a canção
do trovador da heroína, Lou Reed) para expor com sutileza
e humor a barbárie pessoal dos viciados de droga pesada.
Logo na abertura, salientemos o discurso de Ranton que expõe,
de forma aguda, a falta de uma vida plena de sentido
nas sociedade capitalistas avançadas. Diz ele: “Escolha
viver. Escolha um emprego. Escolha uma carreira, uma família.
Escolha uma televisão enorme. Escolha lavadora, carro,
CD Player e abridor de latas elétrico. Escolha saúde,
colesterol baixo e plano dentário. Escolha viver. Mas
por que eu iria querer isso? Escolhi não viver. Escolhi
outra coisa. Os motivos? Não há motivos. Quem
precisa de motivos quando tem heroína?”. [topo].
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