"O
Quinto Elemento",
de Luc Besson (1997)
Em
pleno século 23, um motorista de táxi, Korben
Dallas, interpretado por Bruce Willis, é envolvido numa
trama apocalíptica: precisa encontrar e proteger o quinto
elemento, elo de energia capaz de salvar a Terra de uma
terrível ameaça vinda de outra dimensão
e que percorre a galáxia a cada 5000 anos. Se nada for
feito a Terra será destruída. Para isso, ele precisa
encontrar 4 pedras antigas, que representam os elementos, e
colocá-las em volta de uma bela mulher (Milla Jovovich),
que é o quinto elemento. Em sua missão,
precisa enfrentar o ambicioso dono de corporação
industrial, Jean-Baptiste Emmanuel Zorge (imterpretado por Gary
Oldman) e um grupo de mercenários alienigenas, dispostos
também a encontrarem as 4 pedras. Ficção-cientifica
em ritmo de comédia com bons efeitos especiais. Luc Besson
nos apresenta algo que é típico no genero ficção-científica:
uma bricollage de referências cinematográficas:
dos vilões de Flash Gordon à arquitetura
futurista de Metropolis, passando por Jornadas
Nas Estrelas ou mesmo Stars War (sem faltar os
mistérios do Antigo Egito, origem do Quinto Elemento,
e de padres de estilo medieval, guardiões de segredos
milenares). É curioso que o filme sugere que, apesar
do grande avanço tecnológico no século
23, o destino da Terra ainda depende de mistérios milenares
oriundos no Antigo Egito e da ação de padres e
de proletários marginais (o motorista de táxi
KOrben Dallas). Nas entrelinhas, uma crítica sutil, e
bem-humorada, à parafernália tecnológica
no estilo à la Hollywood. [topo]
"Quase
Nada",
de Sergio Resende (2000)
Filme
brasileiro constituído por três histórias.
Em Foice, um capinador negro se torna chefe de seu
grupo e desperta a inveja de seu melhor amigo e compadre branco.
Em Veneno, um vaqueiro não consegue dormir,
esperando a vingança certa de um desafeto do passado.
Já em Machado, um calado e rude criador de rosas
decide acabar com a alegria de viver de sua mulher. Quase
Nada expressa a visão contundente de um Brasil interior,
seja no sentido territorial (o filme ocorre em fazendas
distantes das aglomerações urbanas, com cada trama
se aproximando, mas não atingindo, o território
da Metrópole); seja no sentido psicológico
(o filme trata de homens solitários, imersos em inveja,
desconfiança, vingança ou ainda paranóia,
ciúme e morte). De certo modo, o filme de Sergio Resende
desmitifica o mundo rural do Brasil profundo, com personagens
entregues (ou em luta) com seus demônios interiores. Ao
contrário de Bye Bye Brasil (de Cacá
Diegues) ou Central do Brasil ( de Walter Salles Jr.),
onde a ida ao interior do País é uma metáfora
da busca de identidade nacional, em “Quase Nada”
o que aparece é a tragédia da Nação
através de pequenas misérias do Brasil profundo,
onde um “quase nada” conduz personagens à
morte ou à prisão. O afeto regressivo que motiva
os personagens é a inveja (em Foice), o medo
(Veneno) e o ciúme (Machado). Cada
afeto negativo corresponde a um instrumento de trabalho (foice,
veneno e machado), expressão de vida e de morte no mundo
do capital. Deste modo, Resende expõe as pequenas tragédias
do cotidiano de um país de modernização
inconclusa, de objetivação capitalista de via
colonial-prussiana, onde o estranhamento social assume múltiplas
formas sócio-psicologicas. Apesar do relato intimista,
Resende apresenta flagrantes determinações sociais,
expressas na desigualdade de classe, de etnia e de gênero.
Por exemplo, o estranhamento (e a desefetivação
humano-genérica) está presente no episódio
Foice, através da inveja que dilacera as relações
de amizade entre dois trabalhadores rurais (é difícil
não apreender ilações implícitas
do conflito racial que perpassa o mundo do trabalho –
o capinador é negro e o cumpadre é branco); e
está presente também no episódio Veneno,
quando um vaqueiro se encontra diante de um inimigo que vem
do passado, e só está presente na memória
e que vive dentro de si. Suas alucinações e o
medo visceral o conduzem ao suicídio. E ainda no episódio
Machado, onde um pequeno produtor de rosas sente um
ciúme doentio que o leva a matar a mulher. [topo]
(2005)
“A
Queda – As Últimas Horas de Adolf Hitler”,
de Oliver Hirschbiegel (2004)
Der
Untergang é baseado nos depoimentos de Traudl Junge
(interpretada por Alexandra Maria Lara), que trabalhava como
secretária de Adolf Hitler (Bruno Ganz) durante os últimos
dias da 2ª Guerra Mundial. O filme narra as últimas
horas do líder alemão, confinado em seu bunker
numa Berlim sitiada. É o relato cuidadoso de uma trágica
derrota, isto é, as últimas horas daqueles que
conduziram o Reich alemão para seu desastre nacional.
Ao se deter não apenas na dimensão logística
da derrota nazista – ou seja, nas grandes cenas de combate
bélico, com seus movimentos de tropas, mas no drama pessoal
– e quase psicológico - de Adolf Hitler, o filme
consegue expor a dimensão demasiadamente humana do líder
nazista (o que não é comum nos filmes de II Guerra
Mundial). Na verdade, Der Untergang expõe a
progressiva perda de senso de realidade de Adolf Hitller diante
da iminente derrota alemã. É como se o alucinado
Adolf Hitler, impotente e frustrado, nos aparecesse, neste momento,
como um pequeno homem e não como monstro – um pequeno
homem degradado, escultor da barbárie humana suprema,
zeitgeist de um capitalismo imperial alucinada, imerso
no mito do Reich eterno. O que observamos nas lentes do filme,
são os últimos delírios de Hitler e dos
generais do III Reich. É difícil imaginar que
a suprema barbárie da guerra seja constituída
por homens e mulheres tão frágeis, quanto insanos,
racionalmente insanos, como nos apresenta Der Untergang.
No submundo do bunker de Hitler, mundo das sombras,
sem janelas e horizontes do porvir, estamos imersos no antro
surreal de homens derrotados, desefetivados em alto grau, que
fogem de si e da própria realidade como forma de compensar
a perda irremediável de suas ambições imperiais.
Talvez a desefetivação dos dominadores, principalmente
no instante da sua derrota irremediável, é tão
cruel, ou até mais trágica, que a desefetivação,
ou a perda do sentido de realidade, dos dominados. É
o que o filme tenta nos sugerir através da tragédia
grotesca dos últimos dias de Adolf Hitler.
[topo]
(2005)
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