Sinopses de Filmes

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"Pai Patrão ", de Paolo e Vittorio Taviani (1977)
"Patch Adams - O Amor é Contagioso", de Tom Shadyac (1998)
“Paris Adormecida”, de René Clair (1923)
"Pão e Rosas", de Ken Louch (2000)

"Pulp Fiction (Tempo de Violência)", de Quentin Tarantino (1994)
"Palavras Ao Vento", de Douglas Sirk (1956)
"O Processo ", de Orson Welles (1962)

 

 

 

 

 

 


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"Pai Patrão ", de Paolo e Vittorio Taviani (1977)

Baseado numa história real, este contundente drama mostra a trajetória de Gavino, um menino que é obrigado pelo pai, interpretado por Omero Antonutti, a abandonar os estudos para trabalhar no campo, cuidando das ovelhas na Sardenha, sul da Itália. Todas as suas tentativas de mudar de vida são frustradas pela ignorância e pela violência do patriarca. Com o tempo, o jovem Gavino, interpretado por Fabrizio Forte, descobre sua única saída: estudar. Ter a arma que seu pai não possui: a cultura. Drama contundente que retrata a forma primitiva de estranhamento e opressão milenar: a do patriarca, senhor da Vida e da Morte no seio da família, instituição primordial da sociedade humana. No caso, o pai oprime o filho, buscando nele força de trabalho servil na atividade de pastoreio. Por isso, castra toas as possibilidades de desenvolvimento humano de Gavino. O estranhamento é imposto pelo próprio pai, assumindo caráter ancestral, quase-natural, ligado a formas tradicionais de opressão social. Os Irmãos Taviani expõem o conflito entre disposições ancestrais primitivas, quase da Natureza inculta, em plena época da modernidade do capital. É através da reapropiação da cultura que Gavino irá buscar uma saída para seu estranhamento primordial. O pai, como a Natureza, é superado, mas não eliminado, como sugere a cena final. Ele persiste como memória-hábito, no gesto da vigília cadenciada no pasto.[topo]
(2005)

 


 

"Patch Adams - O Amor é Contagioso", de Tom Shadyac (1998)

Um estudante de medicina, Hunter “Patch” Adams, interpretado por Robin Williams, começa a usar amor, carinho e alegria como armas para ajudar pessoas hospitalizadas. Entretanto logo irá se confrontar com as práticas médicas institucionalizadas, despertando desconfiança e ciúme dentro da classe médica. Baseado em história real, Shadyac, no estilo de Hollywood, apresenta as vicissitudes do herói empreendedor americano, que enfrenta o establishment corporativo – no caso a corporação médica, eivada de poder e prestigio. Hunter “Patch” Adams praticou a contracultura na profissão médica, criando o Instituto Gesundheit. Embora Shadyac não expresse com clareza, Adams traduziu, em sua metodologia médica o espírito de uma época (os anos 60, a década da contracultura). O estilo populista, autonomista e criativo traduz um traço da cultura americana primordial, dos Pioneiros que colonizaram a América e que hoje ainda no imaginário de Hollywood. [topo]
(2005)

 

 

“Paris Adormecida”, de René Clair (1923)

Um raio invisível de um cientista louco (o Professor X) adormece Paris, deixando todos os habitantes da capital da França mergulhados num sono letárgico. Apenas Albert, que estava no alto da Torre Eiffel e os passageiros de um vôo, que aterrisa em Paris, escaparam do sinistro plano. Primeiro filme do cineasta René Clair que, com ironia e poesia, registrou a Paris dos anos 1920. Pequeno clássico de Clair, cineasta da vanguarda surrealista, que expressa com genialidade, através desta ficção-científica, a crise de civilização (e de sentido de realidade) que atingia a sociedade burguesa européia do pós-I guerra Mundial. Através de suas alegorias criativas, os surrealistas expressavam a aguda desefetivação propiciada pelo sócio-metabolismo do capital em sua etapa de crise orgânica. Diante de uma Paria adormecida, Albert se interroga: “Mas de que serve a riqueza, quando nos entediamos?”. Na foto acima, Albert transforma cédulas de dinheiro em aviãozinhos de papel. Na Paris adormecida, abole-se o próprio valor de troca, pois não há escassez. Paris é deles, nos diz René Clair, autor do roteiro desta narrativa fantástica. Apesar disso, Clair nos mostra homens ávidos de dinheiro e de signos sem valor. [topo]
(2005)

 

"Pão e Rosas", de Ken Louch (2000)

As irmãs Maya (interpretada por Pilar Padilla) e Rosa (Elpidia Carrillo), são trabalhadoras migrantes, de origem mexicana, em situação ilegal, empregadas de prestadora de serviço de limpeza de um prédio comercial no centro da cidade de Los Angeles. O destinou colocou Sam (Adrien Brody), ativista sindical, no caminho de Maya. Ele convence a jovem de Tijuana a apoiar e participar da campanha de organização sindical dos faxineiros contra a exploração dos patrões. Os trabalhadores faxineiros recebem salários miseráveis, não têm assistência médica, nenhuma proteção trabalhista e ainda suportam um patrão abusivo. O tema de Bread and Roses, de Ken Loach, é a luta contra a precarização do estatuto salarial do contingente de trabalhadores subcontratados do setor de serviços que, nas últimas décadas, cresceu bastante nos EUA e nos paises capitalistas. São trabalhadores assalariados sem tradição de organização sindical, constituído por proletários imigrantes, muitos deles ilegais, sem direitos, e disponíveis para a superexploração do capital. Devido a tal situação de espoliação de direitos, a luta proletária incorpora um largo espectro de contingência, assumindo, deste modo, a bandeira da justiça social. Enfim, busca-se constituir um patamar mínimo de direitos sociais capaz de dar-lhe um lastro moral para lutas sociais e políticas de maior envergadura. Além disso, tal bandeira de agitação tende a ser adequada ao nível de consciência de classe contingente de tais proletários ainda imersos em expectativas de mercado. A bandeira de luta por Justiça não põem em questão o sistema do capital, expressando, portanto, os limites (e alcances) da luta dos proletários precários. [topo]
(2005)

 

"Pulp Fiction (Tempo de Violência)", de Quentin Tarantino (1994)

Dois assassinos profissionais Vincent Veja (interpretado por John Travolta) e Jules Winnfiel (Samuel L. Jackson) - devem fazer cobrança para um gângster; Vincent é forçado a sair com a garota do chefe, Mia Wallace (Uma Thurman), temendo passar dos limites; enquanto isso, o boxeador Butch Coolidge (Bruce Willis) se mete em apuros por ganhar luta que deveria perder. Quentin Tarantino dirige esta homenagem à literatura pulp dos anos 40, contando uma história que envolve um gângster, um boxeador e dois assassinos profissionais. Nesse filme, Tarantino faz uma homenagem à literatura pulp. É importante observar que a pulp fiction surgiu em 1896 nos EUA como uma opção de leitura e diversão para uma grande massa de trabalhadores que emigrava do campo para a cidade, formando o que seria chamado de sociedade de massas (o salário médio de um operário era de 7 dólares semanais e o preço dos pulps não pesavam no bolso). A partir da década de 1920 os pulps entraram em decadência devido à concorrência do rádio e do cinema. A mitologia criada pelos pulps é tão forte que impregnou o cinema, os quadrinhos e a imaginação de milhões de pessoas no mundo todo. De Indiana Jones ao Super-homem, a cultura pop deste século deve muito aos pulp fictions. O cinema de Tarantino pode ser considerado um pulp cinema, onde diversão e literatura (ou roteiro de alta qualidade) buscam atrair o público de massa. Na verdade, eis o espírito puro da Sétima Arte segundo o mestre Georges Mélies. Por outro lado, a pulp fiction de Tarantino é pós-moderna. O universo de Tarantino é despedaçado. Ele tende a incorpora a sintaxe simbólica do capitalismo global e seu caos sistêmico. A narrativa de Pulp Fiction possui uma temporalidade fragmentária e descontínua. No filme, Tarantino altera a causalidade natural dos acontecimentos. De fato, ao alterar a seqüência temporal do filme, Tarantino “flexibiliza” a causalidade. Por outro lado, as contingências produzem inflexões significativas na trama filmica. Em Pulp Fiction os personagens são conduzidos pelo acaso e pelo desconhecido. Talvez a violência que permeia o filme seja expressão deste universo de casualidades quase-transcendentes. Em cada detalhe contingente, um gesto de violência concentrada. Como observa Julio Cabrera, “os filmes de Tarantino são uma curiosa e irritante filigrana de coincidências e pequenas fatalidades.” É o que ocorre quando se submerge na lógica terrível do capitalismo pós-moderno. Um detalhe: ao dançar twist com Mia Wallace, Vincent exala uma nostalgia kitsch dos anos dourados do capitalismo americano. [topo]
(2005)

 

"Palavras Ao Vento", de Douglas Sirk (1956)




Playboy milionário, Kyle Hadley, interpretado por Robert Stack, se casa com a elegante e inteligente publicitária Lucy Moore (Laurell Bacal). Ela tentará recuperar seu marido do alcoolismo e dar-lhe autoestima. O amigo de infância de Kyle, Mitch Wayne (Rock Hudson), empregado das empresas Hadley, também se apaixona, por Lucy. Mas nada declara. Por outro lado, a irmã de Kylle, Mary Lee é perdidamente apaixonada por Mitch, mas não é correspondida. Frustrada no amor, ela se afoga em luxúria, tentando preencher com sexo, seu coração vazio. Ao se descobrir impotente, Kylle entra em crise, voltando a beber. Mas não é totalmente impotente – um bebê é possível. Tanto que Lucy descobre que está grávida. Entretanto, Kyle imagina que o filho possa ser de Mitch. Melodrama clássico de Douglas Sirk que retrata a autodestruição de família Hadley, proprietária de poços de petróleo no Texas. Sirk desvela, com exagero melodramático e humor satírico, a decadência extrema de personalidades burguesas, imersas em impotências e taras. Em plena década de ouro do American Way of Life, o diretor expõe, com coragem, por trás da aparência singela, almas endinheiradas dilaceradas por traumas infantis, caracteres corroídos e personalidades tacanhas. Por trás do folhetim cafona de Sirk, o desnudamento da alma burguesa nos EUA. No primeiro plano narrativo, Sirk apresenta o drama dos filhos da família Hadley, Mary Lee e Kyle, imersos em fantasmas interiores, desejos frustrados, personalidades frágeis, demonstrando que o poder do dinheiro oculta apenas uma dilacerante impotência pessoal. Apenas num segundo plano narrativo é que surge a figura do pai, Jasper Hadley, típico capitalista empreendedor, personalidade medíocre, incapaz de lidar com a tibieza de caráter dos filhos. Ele irá falecer de desgosto, atingido por um enfarto, ao se decepcionar com a vida devassa de Mary Lee e o retorno de Kyle ao alcoolismo. Por trás deste melodrama extremo, é perceptível o sugestões criticas à sociabilidade burguesa em seu pólo mais desenvolvido (a família capitalista afluente, mas submersa em suas miserias humanas). Em Written on the Wind, a imagem dos Hardley se impõe a cada momento. Na verdade, ícones da Hardley Oil, prefiguração do capital, está presente em cada lugar. Talvez, apenas no passado idílico, à beira dos rios, onde os irmãos Hadley e Mitch Wayne se divertiam, é que seja possível recuperar um tempo de inocência perdida. Mas como exclamou Mitch: “Como está longe o rio”. [topo]
(2005)

 

 

 

"O Processo ", de Orson Welles (1962)

 

 

Numa certa manhã, um homem, Joseph K. (interpretado por Anthony Perkins), é preso e acusado de um estranho crime que não cometeu. Versão bastante fiel do romance de Franz Kafka. É brilhante a atuação de Anthony Perkins e a cenografia noir criada por Orson Welles. Ele expõe um Joseph K. imerso num mundo da burocracia sinistra que o envolve cada vez mais. Não há redenção possível para o pequeno homem. Cada apelo é uma condenação e a sensação de um terrível pesadelo persegue o espectador do começo ao fim. A trilha musical clássica contrasta-se com o cenário surrealista de Welles. Na verdade, o mundo social de Joseph K. que Welles nos apresenta, inspirado em Kafka, é um mundo da barbárie social, onde grandes estruturas tecno-burocráticas cinzentas, corruptas e mal-administradas esmagam homens e mulheres, espoliados e desefetivados em seus valores morais. [topo]