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"Pai
Patrão ",
de Paolo e Vittorio Taviani (1977)
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Baseado
numa história real, este contundente drama mostra a trajetória
de Gavino, um menino que é obrigado pelo pai, interpretado
por Omero Antonutti, a abandonar os estudos para trabalhar no
campo, cuidando das ovelhas na Sardenha, sul da Itália.
Todas as suas tentativas de mudar de vida são frustradas
pela ignorância e pela violência do patriarca. Com
o tempo, o jovem Gavino, interpretado por Fabrizio Forte, descobre
sua única saída: estudar. Ter a arma que seu pai
não possui: a cultura. Drama contundente que retrata
a forma primitiva de estranhamento e opressão milenar:
a do patriarca, senhor da Vida e da Morte no seio da família,
instituição primordial da sociedade humana. No
caso, o pai oprime o filho, buscando nele força de trabalho
servil na atividade de pastoreio. Por isso, castra toas as possibilidades
de desenvolvimento humano de Gavino. O estranhamento é
imposto pelo próprio pai, assumindo caráter ancestral,
quase-natural, ligado a formas tradicionais de opressão
social. Os Irmãos Taviani expõem o conflito entre
disposições ancestrais primitivas, quase da Natureza
inculta, em plena época da modernidade do capital. É
através da reapropiação da cultura que
Gavino irá buscar uma saída para seu estranhamento
primordial. O pai, como a Natureza, é superado, mas não
eliminado, como sugere a cena final. Ele persiste como memória-hábito,
no gesto da vigília cadenciada no pasto.[topo]
(2005)
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"Patch
Adams - O Amor é Contagioso",
de Tom Shadyac (1998)
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Um
estudante de medicina, Hunter “Patch” Adams, interpretado
por Robin Williams, começa a usar amor, carinho e alegria
como armas para ajudar pessoas hospitalizadas. Entretanto logo
irá se confrontar com as práticas médicas
institucionalizadas, despertando desconfiança e ciúme
dentro da classe médica. Baseado em história real,
Shadyac, no estilo de Hollywood, apresenta as vicissitudes do
herói empreendedor americano, que enfrenta o establishment
corporativo – no caso a corporação médica,
eivada de poder e prestigio. Hunter “Patch” Adams
praticou a contracultura na profissão médica,
criando o Instituto Gesundheit. Embora Shadyac não
expresse com clareza, Adams traduziu, em sua metodologia médica
o espírito de uma época (os anos 60, a década
da contracultura). O estilo populista, autonomista e criativo
traduz um traço da cultura americana primordial, dos
Pioneiros que colonizaram a América e que hoje ainda
no imaginário de Hollywood. [topo]
(2005)
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“Paris
Adormecida”, de René Clair (1923)
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Um
raio invisível de um cientista louco (o Professor X)
adormece Paris, deixando todos os habitantes da capital da França
mergulhados num sono letárgico. Apenas Albert, que estava
no alto da Torre Eiffel e os passageiros de um vôo, que
aterrisa em Paris, escaparam do sinistro plano. Primeiro filme
do cineasta René Clair que, com ironia e poesia, registrou
a Paris dos anos 1920. Pequeno clássico de Clair, cineasta
da vanguarda surrealista, que expressa com genialidade, através
desta ficção-científica, a crise de civilização
(e de sentido de realidade) que atingia a sociedade burguesa
européia do pós-I guerra Mundial. Através
de suas alegorias criativas, os surrealistas expressavam a aguda
desefetivação propiciada pelo sócio-metabolismo
do capital em sua etapa de crise orgânica. Diante de uma
Paria adormecida, Albert se interroga: “Mas de que serve
a riqueza, quando nos entediamos?”. Na foto acima, Albert
transforma cédulas de dinheiro em aviãozinhos
de papel. Na Paris adormecida, abole-se o próprio valor
de troca, pois não há escassez. Paris é
deles, nos diz René Clair, autor do roteiro desta narrativa
fantástica. Apesar disso, Clair nos mostra homens ávidos
de dinheiro e de signos sem valor. [topo]
(2005)
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"Pão
e Rosas", de Ken Louch (2000)
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As
irmãs Maya (interpretada por Pilar Padilla) e Rosa (Elpidia
Carrillo), são trabalhadoras migrantes, de origem mexicana,
em situação ilegal, empregadas de prestadora de
serviço de limpeza de um prédio comercial no centro
da cidade de Los Angeles. O destinou colocou Sam (Adrien Brody),
ativista sindical, no caminho de Maya. Ele convence a jovem
de Tijuana a apoiar e participar da campanha de organização
sindical dos faxineiros contra a exploração dos
patrões. Os trabalhadores faxineiros recebem salários
miseráveis, não têm assistência médica,
nenhuma proteção trabalhista e ainda suportam
um patrão abusivo. O tema de Bread and Roses,
de Ken Loach, é a luta contra a precarização
do estatuto salarial do contingente de trabalhadores subcontratados
do setor de serviços que, nas últimas décadas,
cresceu bastante nos EUA e nos paises capitalistas. São
trabalhadores assalariados sem tradição de organização
sindical, constituído por proletários imigrantes,
muitos deles ilegais, sem direitos, e disponíveis para
a superexploração do capital. Devido a tal situação
de espoliação de direitos, a luta proletária
incorpora um largo espectro de contingência, assumindo,
deste modo, a bandeira da justiça social. Enfim, busca-se
constituir um patamar mínimo de direitos sociais capaz
de dar-lhe um lastro moral para lutas sociais e políticas
de maior envergadura. Além disso, tal bandeira de agitação
tende a ser adequada ao nível de consciência de
classe contingente de tais proletários ainda imersos
em expectativas de mercado. A bandeira de luta por Justiça
não põem em questão o sistema do capital,
expressando, portanto, os limites (e alcances) da luta dos proletários
precários. [topo]
(2005)
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"Pulp
Fiction (Tempo de Violência)", de Quentin Tarantino
(1994)
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Dois
assassinos profissionais Vincent Veja (interpretado por John
Travolta) e Jules Winnfiel (Samuel L. Jackson) - devem fazer
cobrança para um gângster; Vincent é forçado
a sair com a garota do chefe, Mia Wallace (Uma Thurman), temendo
passar dos limites; enquanto isso, o boxeador Butch Coolidge
(Bruce Willis) se mete em apuros por ganhar luta que deveria
perder. Quentin Tarantino dirige esta homenagem à literatura
pulp dos anos 40, contando uma história que envolve um
gângster, um boxeador e dois assassinos profissionais.
Nesse filme, Tarantino faz uma homenagem à literatura
pulp. É importante observar que a pulp fiction surgiu
em 1896 nos EUA como uma opção de leitura e diversão
para uma grande massa de trabalhadores que emigrava do campo
para a cidade, formando o que seria chamado de sociedade de
massas (o salário médio de um operário
era de 7 dólares semanais e o preço dos pulps
não pesavam no bolso). A partir da década de 1920
os pulps entraram em decadência devido à
concorrência do rádio e do cinema. A mitologia
criada pelos pulps é tão forte que impregnou
o cinema, os quadrinhos e a imaginação de milhões
de pessoas no mundo todo. De Indiana Jones ao Super-homem,
a cultura pop deste século deve muito aos pulp
fictions. O cinema de Tarantino pode ser considerado um
pulp cinema, onde diversão e literatura (ou
roteiro de alta qualidade) buscam atrair o público de
massa. Na verdade, eis o espírito puro da Sétima
Arte segundo o mestre Georges Mélies. Por outro lado,
a pulp fiction de Tarantino é pós-moderna.
O universo de Tarantino é despedaçado. Ele tende
a incorpora a sintaxe simbólica do capitalismo global
e seu caos sistêmico. A narrativa de Pulp Fiction
possui uma temporalidade fragmentária e descontínua.
No filme, Tarantino altera a causalidade natural dos acontecimentos.
De fato, ao alterar a seqüência temporal do filme,
Tarantino “flexibiliza” a causalidade. Por outro
lado, as contingências produzem inflexões significativas
na trama filmica. Em Pulp Fiction os personagens são
conduzidos pelo acaso e pelo desconhecido. Talvez a violência
que permeia o filme seja expressão deste universo de
casualidades quase-transcendentes. Em cada detalhe contingente,
um gesto de violência concentrada. Como observa Julio
Cabrera, “os filmes de Tarantino são uma curiosa
e irritante filigrana de coincidências e pequenas fatalidades.”
É o que ocorre quando se submerge na lógica terrível
do capitalismo pós-moderno. Um detalhe: ao dançar
twist com Mia Wallace, Vincent exala uma nostalgia kitsch
dos anos dourados do capitalismo americano. [topo]
(2005)
![](filmetira150.jpg) ![](filmetira150.jpg) ![](filmetira150.jpg)
"Palavras
Ao Vento", de Douglas Sirk (1956)
Playboy
milionário, Kyle Hadley, interpretado por Robert Stack,
se casa com a elegante e inteligente publicitária Lucy
Moore (Laurell Bacal). Ela tentará recuperar seu marido
do alcoolismo e dar-lhe autoestima. O amigo de infância
de Kyle, Mitch Wayne (Rock Hudson), empregado das empresas Hadley,
também se apaixona, por Lucy. Mas nada declara. Por outro
lado, a irmã de Kylle, Mary Lee é perdidamente
apaixonada por Mitch, mas não é correspondida.
Frustrada no amor, ela se afoga em luxúria, tentando
preencher com sexo, seu coração vazio. Ao se descobrir
impotente, Kylle entra em crise, voltando a beber. Mas não
é totalmente impotente – um bebê é
possível. Tanto que Lucy descobre que está grávida.
Entretanto, Kyle imagina que o filho possa ser de Mitch. Melodrama
clássico de Douglas Sirk que retrata a autodestruição
de família Hadley, proprietária de poços
de petróleo no Texas. Sirk desvela, com exagero melodramático
e humor satírico, a decadência extrema de personalidades
burguesas, imersas em impotências e taras. Em plena década
de ouro do American Way of Life, o diretor expõe,
com coragem, por trás da aparência singela, almas
endinheiradas dilaceradas por traumas infantis, caracteres corroídos
e personalidades tacanhas. Por trás do folhetim cafona
de Sirk, o desnudamento da alma burguesa nos EUA. No primeiro
plano narrativo, Sirk apresenta o drama dos filhos da família
Hadley, Mary Lee e Kyle, imersos em fantasmas interiores, desejos
frustrados, personalidades frágeis, demonstrando que
o poder do dinheiro oculta apenas uma dilacerante impotência
pessoal. Apenas num segundo plano narrativo é que surge
a figura do pai, Jasper Hadley, típico capitalista empreendedor,
personalidade medíocre, incapaz de lidar com a tibieza
de caráter dos filhos. Ele irá falecer de desgosto,
atingido por um enfarto, ao se decepcionar com a vida devassa
de Mary Lee e o retorno de Kyle ao alcoolismo. Por trás
deste melodrama extremo, é perceptível o sugestões
criticas à sociabilidade burguesa em seu pólo
mais desenvolvido (a família capitalista afluente, mas
submersa em suas miserias humanas). Em Written on the Wind,
a imagem dos Hardley se impõe a cada momento. Na verdade,
ícones da Hardley Oil, prefiguração do
capital, está presente em cada lugar. Talvez, apenas
no passado idílico, à beira dos rios, onde os
irmãos Hadley e Mitch Wayne se divertiam, é que
seja possível recuperar um tempo de inocência perdida.
Mas como exclamou Mitch: “Como está longe o rio”.
[topo]
(2005)
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"O
Processo ", de Orson Welles (1962)
Numa
certa manhã, um homem, Joseph K. (interpretado por Anthony
Perkins), é preso e acusado de um estranho crime que
não cometeu. Versão bastante fiel do romance de
Franz Kafka. É brilhante a atuação de Anthony
Perkins e a cenografia noir criada por Orson Welles.
Ele expõe um Joseph K. imerso num mundo da burocracia
sinistra que o envolve cada vez mais. Não há redenção
possível para o pequeno homem. Cada apelo é uma
condenação e a sensação de um terrível
pesadelo persegue o espectador do começo ao fim. A trilha
musical clássica contrasta-se com o cenário surrealista
de Welles. Na verdade, o mundo social de Joseph K. que Welles
nos apresenta, inspirado em Kafka, é um mundo da barbárie
social, onde grandes estruturas tecno-burocráticas cinzentas,
corruptas e mal-administradas esmagam homens e mulheres, espoliados
e desefetivados em seus valores morais. [topo]
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