"A
Máquina do Tempo", de
George Pal (1961)
George é o cientista que inventa uma máquina do
tempo e viaja para um futuro distante. No ano de 802.300, a
raça humana se divide entre elois, que vivem
na superfiecie da Terra, e morloks, habitantes das
profundezas, que se alimentam dos elois. Conhece uma
jovem eloi (Weena) e utilizando o fogo, decide libertar
os elois da opressão dos morlocks.
Ao voltar para o seu tempo, encontra a descrença de velhos
amigos. George decide então retornar para o futuro distante
e ajudar a construir a nova humanidade. Filme clássico
da ficção cientifica baseado em romance de H.G.
Wells. Por um lado, George expressa a profunda insatisfação
do homem com a civilização burguesa imersa em
guerras e mesquinhos interesses comerciais. Ao viajar pelo século
XX, George observa tão-somente morte e destruição
através de guerras. Na verdade, o tema da viagem
pelo tempo tende a expressar, de certo modo, a fuga fantástica
da tibieza do mundo burguês. É um tipo de redução
das barreiras naturais (o espaço-tempo é uma forma
de natureza que se impõe ao homem). Por outro lado, ao
voltar para o futuro distante, o inglês George expressa
o espírito colonizador do Império Britânico.
Cabe a um inglês construir a nova humanidade. Ou seja,
não deixa de ser sugestivo que seja um inglês o
demiurgo desta nova civilização do futuro remoto.
[topo]
(2005)
"Monstros",
de Tod Browning (1932)
O
anão Hans se apaixona por bela trapezista de circo que,
ao saber que ele herdou uma fortuna, planeja, com o amante Hercules,
se apossar da sua herança. Fingindo corresponder ao amor
de Hans, ela se casa com ele e tenta envenená-lo. Ao
saber do plano criminoso, os amigos de Hans, figuras grotescas
do circo, os "monstros" do título, decidem
vingá-lo. A trama toda ocorre num circo. Desta vez, Browning
(que dirigiu o clássico Drácula, com
Bela Lugosi), trata do grotesco e do preconceito para com homens
e mulheres com aberrações físicas, verdadeiros
fenômenos circenses, objeto da curiosidade e pavor do
publico. O horror de Freaks é o horror do humano
grotesco, da figura aberrante e deformada. Mas o curioso é
que, no filme, são tais figuras grotescas que expressam
laços de sociabilidade e de valor humanos. Os supostos
homens "normais", como a trapezista e seu amante,
exemplos de beleza e força física, representam,
por outro lado, a degradação de caráter
humano, imersos em trapaças e preconceitos contra o diferente
e o anormal. Na verdade, no mundo do capital, o normal
é que se torna verdadeiramente grotesco. Produzido
em 1932, em plena depressão capitalista, com seus milhões
de desempregados nos EUA, e no auge do furor fascista na civilizada
Europa ocidental, Freaks parece utilizar o grotesco
como critica da sociabilidade estranhada do mundo burguês.
[topo]
(2005)
"A
Morte Num Beijo", de Robert
Aldrich (1955)
Filme
noir clássico, baseado no best-seller
de Mickey Spillane Kiss me Deadly e magistralmente
dirigido por Robert Aldrich. Mike Hammer, é um investigador
particular que tenta desvendar o mistério de estranho
assassinato de uma bela loira a quem dera carona. Apenas no
final do filme, Hammer descobre uma misteriosa caixa preta que
contém a solução do assassinato. A trama
policial noir expõe elementos da modernidade
burguesa em crise, com sua sociabilidade fetichizada. O clima
de estranhamento percorre toda a trama de Kiss Me Deadly,
auxiliado pelo jogo de luz e sombras, influência do expressionismo
alemão, que acaba deixando o filme com uma aparência
de pesadelo. O próprio detetive não sabe exatamente
o que está procurando em suas investigações.
A atmosfera de angústia supõe um universo fechado
à la Franz Kafka; uma modernidade fetichizada in
extremis, onde o sujeito resiste à sua negação
pelas coisas. O final apocalíptico vincula a narrativa
de Kiss Me Deadly ao tema do cataclismo nuclear, espectro
irremediável da autodestruição humana.
[topo]
(2005)
"Mar
Adentro", de Alejandro Amenábar (2004)
Ramón
Sampedro, interpretado por Javier Bardem, é um homem
nascido numa pequena vila de pescadores da Galicia, que luta
para ter o direito de pôr fim à sua própria
vida. Na juventude ele sofreu um acidente, que o deixou tetraplégico
e preso a uma cama por 28 anos. Lúcido e extremamente
inteligente, Ramón decide lutar na justiça pelo
direito de decidir sobre sua própria vida, o que lhe
gera problemas com a justiça, a igreja e até mesmo
seus familiares. A chegada de duas mulheres alterará
seu mundo: Julia (Belén Rueda), a advogada que quer apoiar
sua luta e Rosa (Lola Dueñas), uma vizinha do povoado
que tentará convencer-lhe de que viver vale a pena. Ele
sabe que só a pessoa que o ama de verdade será
aquela que vai lhe ajudar a realizar essa última viagem.
Após 28 anos deitado e dependendo de todos à sua
volta para tudo, ele chama uma advogada para tentar conseguir
legalmente o direito de cometer eutanásia. Filme de tese
em defesa da eutanásia. De certo modo, Mar adentro
é uma visão da morte a partir da vida. Enfim,
a vida não é um valor absoluto. Por outro
lado, o filme nos mostra diferentes maneiras de conceber o amor.
Por exemplo, vemos a história de Ramón através
das diferentes mulheres que rodeiam sua cama. Primeiro, o amor
protetor que se estabelece com Rosa, porque ela e outras mulheres
vinham lhe contar seus problemas. Depois, com Julia, percebemos
uma conexão intelectual; compartilham preocupações
similares e concepções totalmente distintas da
vida e da morte. Outro é a relação pai-filho
que estabelece com seu sobrinho. Também é muito
importante a relação de amor e desentendimento
fraternal que Ramón e José mantêm. E a relação
com sua cunhada, de absoluta cumplicidade, maternal, onde as
palavras são quase desnecessárias porque se entendem
com um olhar. Além disso, Mar adentro é
um dos versos de um poema de Ramón. Há um momento
no filme onde Ramón diz que o mar lhe deu a vida e o
mar a tirou, porque foi onde ocorreu o acidente. O mar é,
também, a sensação de escape. É
essa linha do horizonte que nunca se acaba, que representa o
infinito. No ápice de seu desenvolvimento civilizatório
e do seu complexo de mediações sociais, o homem
parece ser o único animal capaz de justificar a morte
a partir da vida. [topo]
(2005)
"Matei
Jesse James", de Samuel Fuller (1949)
Obra
de estréia de Samuel Fuller, quase um anti-western
devido a sua abordagem psicológica do drama de Bob Ford,
interpretado por John Ireland, o homem que matou o lendário
fora-da-lei Jesse James com um tiro pelas costas. Bob mata aquele
que era o seu melhor amigo pelo amor de uma mulher (Cinty Waters,
interpretada por Bárbara Britton) e pela ânsia
de liberdade. Um dos momentos mais impressionantes do filme
é quando o irmão de Jesse, Frank James, se aproxima
de Ford e lhe diz que não vai matá-lo com uma
arma, mas vai lhe dizer algo que vai acabar com a sua vida.
E diz que a mulher amada, que o levou a trair e assassinar seu
melhor amigo, ama outro homem. Em I Shot Jesse James,
Fuller disseca a alma do personagem central. É o que
explica, por exemplo, o uso abundante de close-ups.
Através do drama de Bob Ford, Fuller nos mostra que a
culpa de um homem pode provocar mais estragos que um tiro. Apesar
de ser um homem livre, Bob Ford está imerso num drama
íntimo: carrega a culpa de covarde e traidor, e a angústia
da incerteza de ter o amor da mulher amada. Pior que Joseph
K., em “O Processo”, de Franz Kafka, Bob Ford está
imerso em seu trágico processo e tem, do mesmo modo,
sua sentença decretada. Ao abordar o lado psicológico
do western, Fuller disseca a crise da epopéia
americana, tão bem ilustrada pelo gênero western.
Ao trair Jesse James, Bob Ford trai sua própria classe
social, a classe de homens subalternos fora-da-lei num velho
Oeste dominado por banqueiros e grandes proprietários
capitalistas de terra. Ao renegar a vida inglória de
fora-da-lei, buscando a medíocre liberdade na ordem do
capital, Bob Ford é condenado ao limbo pelo seu sentimento
de culpa. I Shot Jesse James é o inferno de
um homem só (Bob Ford), o homem que matou o lendário
fora-da-lei Jesse James. [topo]
(2005)
"Matei
Jesse James", de Samuel Fuller (1949)
Uma
trupe de saltimbancos percorre a Itália no início
dos anos 1950, liderada pelo carismático Checco (o grande
comediante Peppino De Filippo). Certo dia, Liliana, uma bela
jovem do interior que sonha em ser atriz de sucesso, começa
a fazer de tudo para entrar na companhia, chegando a seduzir
Checco. Com isso, ela provoca ciúmes em Melina Amour
(Giulietta Masina) e discórdia no resto do grupo.
Luci del Varietà é o primeiro filme de Federico
Fellini como diretor, co-dirigido com Alberto Lattuada. O filme
se inspira em experiências pessoais de Fellini, que no
decorrer da carreira iria desenvolver um estilo único
de cinema, um realismo lírico tão doce quanto
amargo, tratando de problemas candentes da modernidade do capital
numa perspectiva quase-surreal. Mas o surrealismo de Fellini
provém de sua tentativa de resgatar dimensões
perdidas da tradição e da memória no fluxo
alucinado da vida moderna, que desmancha tudo que é
sólido. O modernismo de Fellini se caracteriza pelo
contraste bem-temperado entre Moderno e Tradicional, verdadeiro
conteúdo onirico de seu vívido realismo quase-fantástico.
Em Luci del Varietà, Liliana é a jovem
do interior da Itália, fascinada pelo sucesso, marca
do amor e da felicidade, posto como ideologia de uma Itália
capitalista em processo intenso de modernização
no Pós-guerra. [topo]
(2005)
“A
Morte Cansada”, de Fritz
Lang (1921)
Clássico
do cinema alemão da década de 1920. Num vilarejo
europeu do século XIX, a Morte leva um jovem justo quando
este estava prestes a se casar. Desesperada, sua noiva vai buscar
conforto na casa de um velho alquimista que lhe oferece ajuda.
Lá, ela lê uma passagem na Bíblia que dizia
que "o amor é mais forte que a morte". Ela
resolve se suicidar para se encontrar com a morte e pedir a
vida do marido de volta. A noiva, aos prantos, suplica que devolva
a vida do seu amor. A Morte decide dar uma chance à jovem
desesperada, prometendo devolver a vida do noivo se ela conseguir
evitar a morte de uma das três vidas prestes a perecer.
Fritz Lang nos mostra, então, a história das três
velas acessas; a primeira, que transcorre na exótica
Pérsia; a segunda, na Veneza Renascentista, e a terceira
e última, na China Imperial. Em cada estória,
três conflitos entre o Amor e a Morte. Em todas elas,
a morte vence o amor. Entretanto, ela dá mais uma última
chance à noiva apaixonada. A Morte irá trazer
seu noivo de volta caso ela ofereça uma outra vida em
troca. A noiva sai desesperada pela cidade à procura
de alguém disposto a morrer, mas não encontra
ninguém. Ela tem a oportunidade de oferecer um bebê
que achou num prédio em chamas, mas não é
capaz de dá-lo em troca do marido. Seu amor não
é tão forte a ponto de sacrificar um recém-nascido.
Entretanto, é forte o bastante a ponto de renunciar à
própria vida (a válvula de escape do suicídio).
Em Die Mude Tod, a Morte só cumpre ordens, e
ela própria diz estar cansada desse trabalho ingrato,
tendo que separar pessoas e famílias a mando de Deus,
o que também pode ser visto em seu olhar, sempre tranqüilo,
mas que parece se perder no nada. A Morte de Die Mude Tod
que se ressente do cansaço tão humano, amaldiçoada
na terra por cumprir os desígnios divinos, se afigura
como uma das personagens mais solitárias da história
do cinema mundial. Ora, o desalento da Morte é expressão
plena da crise orgânica do mundo burguês na Alemanha
de 1922, derrotada na Primeira Guerra Mundial, com milhões
de alemães mortos, imersa em luta de classes e sem perspectivas
de futuro. [topo]
(2005)
“A
Mosca da Cabeça Branca”, de
Kurt Neumann (1958)
Andre
Delambre (interpretado por David Hedison) é um jovem
cientista que obtém sucesso com experiências com
teletransporte de matéria. Entretanto, ao utilizar-se
como cobaia, ocorre um acidente trágico: uma mosca entra
por acidente em sua capsula de teletransporte e ele se transforma
num monstro com cabeça do inseto. Ficção-científica
clássica refilmada depois por David Cronenberg em 1986
(como The Fly, "A Mosca"). Num primeiro momento,
observamos o cientista fazendo ode à ciência, para
depois da trágica experiência, ele renunciar às
suas crenças na onipotência do saber científico.
Em The Fly (de 1958), o cientista é um homem
rico, pai de família, com mulher e filho pequeno. Entretanto,
ele se dedica de corpo e alma às suas experiências
cientificas, não dando atenção à
família. Ele tem obsessão em dar um salto no progresso
dos meios de transporte. É curioso que, o castigo vem
de uma mosca involuntária que invade sua cápsula
de teletransporte. O laborátorio é mera extensão
de seu lar que se interliga com a fábrica metalúrgica,
administrada pelo seu irmão (Vincent Price).
[topo]
(2006)
“O
Menino de Cabelos Verdes”, de Joseph Losey (1949)
Peter
Frye (Dean Stockwell) é um garoto inglês que, durante
a II Guerra Mundial, perde os pais, mortos por uma blitz,
em Londres. Ninguém diz a ele que seus pais morreram
e que agora ele é um órfão de guerra. E
assim, sem ele próprio saber o porquê, vai sendo
despachado da casa de um parente para o outro, todos igualmente
egoístas e nenhum interessado em ajudá-lo. Anos
mais tarde, Peter acaba indo parar na casa do tio Gramp (interpretado
por Peter O'Brien), o mais gentil dos seus anfitriões.
Peter e Gramp parecem se dar bem, mas na manhã seguinte
em que toma conhecimento que seus pais morreram, o cabelo de
Peter, subitamente, adquire a cor verde. As reações
das pessoas que o cercam tornam-se absurdas, desprezando e perseguindo
Peter por ele não ser igual aos demais. Por outro lado,
Peter acredita que a cor verde de seus cabelos é uma
mensagem de paz entre os homens e um repúdio à
guerra, que torna tantas crianças infelizes. Entretanto,
ele é obrigado por todos a raspar seus cabelos verdes.
Parábola de Losey que expõe o caráter reaccionario
das pequenas comunidades preconceituosas, incapazes de aceitar
o que é diferente e singular. É uma critica visceral
à intolerância de todo tipo.
[topo]
(2006)
“Magnólia”,
de Paul Thomas Anderson (1999)
Em
San Fernando Valley, Califórnia, nove pessoas terão
suas vidas interligadas através de "O Que as Crianças
Sabem", um programa de televisão que existe há
anos, onde um grupo de crianças desafia adultos. Se conseguirem
o feito, ganharão uma alta soma de dinheiro. No time
de crianças está Stanley Spector (interpretado
por Jeremy Blackman), garoto prodígio que está
começando a ficar cansado disto, pois percebe, entre
outras coisas, que está sendo usado pelo pai (Michael
Bowen) para ganhar dinheiro. O programa de tv é comandado
por Jimmy Gator (Philip Baker Hall), um veterano da televisão
que sofre de câncer, mas oculta a doença dos demais.
Por coincidência, Earl Partridge (Jason Robards), o produtor
do programa, está morrendo de câncer no cérebro
e pulmão, tendo os seus dias contados (vide foto acima).
Earl é marido de Linda Partridge (Julianne Moore), que
se casou com ele por dinheiro, mas que se encontra desesperada,
pois descobriu que ama o marido. Earl tem um enfermeiro particular,
Phil Parma (Philip Seymour Hoffman), que lhe dá toda
a atenção como profissional e como amigo. Earl
pede a Phil que entre em contato com Frank T.J. Mackey (Tom
Cruise), filho rejeitado por Earl que cresceu odiando o pai.
Frank é um show-man que dá seminários
para homens solteiros, onde ensina técnicas para seduzir
mulheres. Frank odeia o pai porque Earl abandonou sua primeira
esposa, mãe de Frank, após vinte e três
anos de casados, quando esta estava com câncer, e deixou
Frank com apenas quatorze anos para cuidar da mãe em
estado terminal. Desta época em diante Earl e Frank nunca
mais se falaram, mas Phil tenta localizar Frank de qualquer
jeito para avisar que seu pai está morrendo. A falta
de comunicação entre pais e filhos, um dos temas
candentes de Magnolia, aparece também na relação
de Jimmy Gator, o apresentador de tv, com sua filha, Claudia
Wilson Gator (Melora Waters), jovem viciada em cocaína,
que não fala com o pai, pois o acusa de tê-la molestado
sexualmente. Jim Kurring (John C. Reilly) é policial
que, certa noite, vai à casa de Claudia, após
sido recebido queixa de vizinhos que denunciavam o som muito
alto no apartamento dela. De imediato, Jim se apaixona por ela,
e ela se sente atraída por ele, mas, ao mesmo tempo,
está insegura em manter esta relação de
enamoramento. Para concluir a aprseentaçào da
trama complexa de “Magnólia”, temos o drama
trágico de Donnie Smith (William H. Macy), homem de meia-idade
que, em 1968, chegou a estabelecer o recorde do programa "O
Que as Crianças Sabem", mas quando ficou adulto,
tornou-se um patético fracassado em busca desesperada
da felicidade. “Magnólia” é uma filme
complexo que expõe, através de sua narrativa,
as misérias das relações sociais numa sociedade
de mercadorias, cujo metabolismo social se baseia nos valores
estranhados do dinheiro e do sucesso a qualquer preço,
com destaque para as relações fetichizadas entre
pais e filhos, marcadas pela falta de comunicação,
manipulação e indiferença (é o caso
de Earl e Frank, Jimmy e Claudia e Stanley e seu pai). É
a perspectiva da morte que tende a alterar a dinâmica
reiterativa de relações sociais estranhadas (por
exemplo, ao saber do câncer em estado terminal,
Jimmy busca sua filha Claudia; outro personagem com câncer,
Earl busca desesperadamente seu filho Frank; Linda, que se casou
por dinheiro com Earl, diante da iminência de morte do
marido, descobre que o ama). De certo modo, o filme expõe
o esgotamento da lógica reiterativa do fetichismo do
dinheiro através, por exemplo, das mudanças de
atitude do jovem Stanley, que se recusa a ser manipulado pelo
pai (de certo modo, o trágico Donnie é o Stanley
que não desistiu de ser manipulado pelos adultos, há
cerca de trinta e cinco anos). Por isso, a canção
“Wise up” nos diz “Isto não vai parar;
portanto, apenas desista”. Enfim, desista! - reitera o
filme. É o que faz Stanley, Claudia, Frank (e inclusive
Donnie) que rompem o circulo vicioso da incomunicabilidade e
do desespero exposto pelas misérias da sociedade estranhada
do capital.
[topo] (2006)
“Maldição”,
de Fritz Lang (1950)
Baseado
em um romance escrito na década de 1920 por A. P. Herbert,
Fritz Lang constrói em House by The River, um
thriller de suspense de alto nível. Mais uma
vez, os protagonistas de Lang são pessoas fracassadas,
marginalizadas e esmagadas pelo sentimento de culpa. Um escritor
fracassado Stephen Byrne (Louis Hayward), que vive às
custas da rica mulher, Marjorie (Jane Wyatt), tenta seduzir
a empregada da família, Emily (Dorothy Patrick), mas
como ela o rejeita, o escritor a estrangula. Para se livrar
do crime, tentará envolver o irmão John (Lee Bowman).
A sujeira que corre pelo rio é em House by The River
a metafóra da degradação moral que
crassa na sociedade burguesa. Este drama gótico que se
passa quase inteiramente dentro de uma velha mansão à
beira de um rio, é um dos filmes menos conhecidos da
fase americana de Fritz Lang. [topo]
“Medéia”,
de Pier Paolo Pasolini (1969)
Baseado
na tragédia grega de Eurípedes, Pasolini oferece
sua versão de “Medéia”, buscando traduzir
o significado do trágico na modernidade. A feiticeira
Medéia mata o próprio irmão para fugir
com o amado, Jasão, que roubara o velocino de ouro. Anos
mais tarde, Jasão a abandona, para se casar com a jovem
e bela filha do Rei Creone. Indignada, Medéia planeja
uma terrível vingança contra Jasão. Com
belíssima fotografia de Ennio Guarnieri, Pasolioni nos
apresenta num de seus melhores filmes, uma reflexão visual
sobre o tema da civilização e da barbárie,
do moderno e do trágico, do mito e da verdade.[topo]
"Milagre
em Milão”, de
Vittorio De Sica (1951)
Fábula
clássica de Vittorio De Sica, premiada com a Palma de
Ouro de Melhor Filme no Festival de Cinema de Cannes em 1951.
Totò (Francesco Golisano) é um órfão
que, quando bebê, foi descoberto por Dona Lolotta (Emma
Gramatica) em sua horta. A generosa velhinha cria o menino em
seu espírito de bondade e pureza de coração.
Quando ela morre, Totò passa anos em um orfanato, de
onde sai com o ímpeto irresistível de ajudar os
miseráveis "sem-teto", que vivem num terreno
ocupado na periferia de Milão. Entretanto, após
descobrirem petróleo no terreno, a felicidade dos moradores
é ameaçada pelo proprietário (o milionário
Mobbi), que manda a polícia evacuar o local. Em Miracolo
a Milano, o milionário Mobbi (Guglielmo Bernabò)
é apresentado como uma entidade totalitária, tecnocrática,
anti-humana (ele usa um ''homem-barômetro'' amarrado à
fachada de seu palácio. Dois servidores devem soprar
suas mãos na noite gelada. E ele comanda pessoalmente
as operações de milícia contra os moradores
de seus terrenos). Ora, quando tudo parece perdido, Totó
recebe um presente dos céus: Lolotta, que se revela uma
espécie de anjo-da-guarda do filho adotivo, deixa-lhe
uma pomba com poderes milagrosos. “Milagre em Milão”
marca o apogeu da parceria entre o roteirista Cesare Zavattini
e o cineasta Vittorio De Sica, que juntos fizeram "Ladrões
de Bicicleta", "Umberto D", "Vítimas
da Tormenta", entre outros filmes memoráveis. Neste
filme, De Sica incorpora um caráter fantástico
em seu estilo neorealista. A música-tema original, de
Alessandro Cicognini, é quase um hino dos "sem-teto",
proletários miseráveis, excluidos da riqueza social
do mundo burguês. ''É de fato uma fábula''
- escreveu Pierre Leprohon em seu livro "O cinema italiano".
''Mas é uma fábula enraizada na mais autêntica
e viva realidade.''[topo]
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