Sinopses de Filmes

M
"A Máquina do Tempo", de George Pal(1961)
"Monstros", de Tod Browning (1932)
"A Morte Num Beijo",
de Robert Aldrich (1955)
"Mar Adentro", de Alejandro Amenábar (2004)
"Matei Jesse James", de Samuel Fuller (1949)
"Mulheres e Luzes", de Federico Fellini e Alberto Lattuada (1950)
“A Morte Cansada, de Fritz Lang (1921)
“A Mosca da Cabeça Branca”,
de Kurt Neumann (1958)
“O Menino de Cabelos Verdes”, de Joseph Losey (1949)
“Magnólia”, de Paul Thomas Anderson (1999)
“Maldição”, de Fritz Lang (1950)
“Medéia”, de Pier Paolo Pasolini (1969)
Milagre em Milão”, de Vittorio De Sica (1951)

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"A Máquina do Tempo", de George Pal (1961)

 


George é o cientista que inventa uma máquina do tempo e viaja para um futuro distante. No ano de 802.300, a raça humana se divide entre elois, que vivem na superfiecie da Terra, e morloks, habitantes das profundezas, que se alimentam dos elois. Conhece uma jovem eloi (Weena) e utilizando o fogo, decide libertar os elois da opressão dos morlocks. Ao voltar para o seu tempo, encontra a descrença de velhos amigos. George decide então retornar para o futuro distante e ajudar a construir a nova humanidade. Filme clássico da ficção cientifica baseado em romance de H.G. Wells. Por um lado, George expressa a profunda insatisfação do homem com a civilização burguesa imersa em guerras e mesquinhos interesses comerciais. Ao viajar pelo século XX, George observa tão-somente morte e destruição através de guerras. Na verdade, o tema da viagem pelo tempo tende a expressar, de certo modo, a fuga fantástica da tibieza do mundo burguês. É um tipo de redução das barreiras naturais (o espaço-tempo é uma forma de natureza que se impõe ao homem). Por outro lado, ao voltar para o futuro distante, o inglês George expressa o espírito colonizador do Império Britânico. Cabe a um inglês construir a nova humanidade. Ou seja, não deixa de ser sugestivo que seja um inglês o demiurgo desta nova civilização do futuro remoto. [topo]
 
(2005)

 

 

"Monstros", de Tod Browning (1932)

O anão Hans se apaixona por bela trapezista de circo que, ao saber que ele herdou uma fortuna, planeja, com o amante Hercules, se apossar da sua herança. Fingindo corresponder ao amor de Hans, ela se casa com ele e tenta envenená-lo. Ao saber do plano criminoso, os amigos de Hans, figuras grotescas do circo, os "monstros" do título, decidem vingá-lo. A trama toda ocorre num circo. Desta vez, Browning (que dirigiu o clássico Drácula, com Bela Lugosi), trata do grotesco e do preconceito para com homens e mulheres com aberrações físicas, verdadeiros fenômenos circenses, objeto da curiosidade e pavor do publico. O horror de Freaks é o horror do humano grotesco, da figura aberrante e deformada. Mas o curioso é que, no filme, são tais figuras grotescas que expressam laços de sociabilidade e de valor humanos. Os supostos homens "normais", como a trapezista e seu amante, exemplos de beleza e força física, representam, por outro lado, a degradação de caráter humano, imersos em trapaças e preconceitos contra o diferente e o anormal. Na verdade, no mundo do capital, o normal é que se torna verdadeiramente grotesco. Produzido em 1932, em plena depressão capitalista, com seus milhões de desempregados nos EUA, e no auge do furor fascista na civilizada Europa ocidental, Freaks parece utilizar o grotesco como critica da sociabilidade estranhada do mundo burguês. [topo]
(2005)

 

"A Morte Num Beijo", de Robert Aldrich (1955)

Filme noir clássico, baseado no best-seller de Mickey Spillane Kiss me Deadly e magistralmente dirigido por Robert Aldrich. Mike Hammer, é um investigador particular que tenta desvendar o mistério de estranho assassinato de uma bela loira a quem dera carona. Apenas no final do filme, Hammer descobre uma misteriosa caixa preta que contém a solução do assassinato. A trama policial noir expõe elementos da modernidade burguesa em crise, com sua sociabilidade fetichizada. O clima de estranhamento percorre toda a trama de Kiss Me Deadly, auxiliado pelo jogo de luz e sombras, influência do expressionismo alemão, que acaba deixando o filme com uma aparência de pesadelo. O próprio detetive não sabe exatamente o que está procurando em suas investigações. A atmosfera de angústia supõe um universo fechado à la Franz Kafka; uma modernidade fetichizada in extremis, onde o sujeito resiste à sua negação pelas coisas. O final apocalíptico vincula a narrativa de Kiss Me Deadly ao tema do cataclismo nuclear, espectro irremediável da autodestruição humana. [topo]
(2005)

 

 

"Mar Adentro", de Alejandro Amenábar (2004)

 

Ramón Sampedro, interpretado por Javier Bardem, é um homem nascido numa pequena vila de pescadores da Galicia, que luta para ter o direito de pôr fim à sua própria vida. Na juventude ele sofreu um acidente, que o deixou tetraplégico e preso a uma cama por 28 anos. Lúcido e extremamente inteligente, Ramón decide lutar na justiça pelo direito de decidir sobre sua própria vida, o que lhe gera problemas com a justiça, a igreja e até mesmo seus familiares. A chegada de duas mulheres alterará seu mundo: Julia (Belén Rueda), a advogada que quer apoiar sua luta e Rosa (Lola Dueñas), uma vizinha do povoado que tentará convencer-lhe de que viver vale a pena. Ele sabe que só a pessoa que o ama de verdade será aquela que vai lhe ajudar a realizar essa última viagem. Após 28 anos deitado e dependendo de todos à sua volta para tudo, ele chama uma advogada para tentar conseguir legalmente o direito de cometer eutanásia. Filme de tese em defesa da eutanásia. De certo modo, Mar adentro é uma visão da morte a partir da vida. Enfim, a vida não é um valor absoluto. Por outro lado, o filme nos mostra diferentes maneiras de conceber o amor. Por exemplo, vemos a história de Ramón através das diferentes mulheres que rodeiam sua cama. Primeiro, o amor protetor que se estabelece com Rosa, porque ela e outras mulheres vinham lhe contar seus problemas. Depois, com Julia, percebemos uma conexão intelectual; compartilham preocupações similares e concepções totalmente distintas da vida e da morte. Outro é a relação pai-filho que estabelece com seu sobrinho. Também é muito importante a relação de amor e desentendimento fraternal que Ramón e José mantêm. E a relação com sua cunhada, de absoluta cumplicidade, maternal, onde as palavras são quase desnecessárias porque se entendem com um olhar. Além disso, Mar adentro é um dos versos de um poema de Ramón. Há um momento no filme onde Ramón diz que o mar lhe deu a vida e o mar a tirou, porque foi onde ocorreu o acidente. O mar é, também, a sensação de escape. É essa linha do horizonte que nunca se acaba, que representa o infinito. No ápice de seu desenvolvimento civilizatório e do seu complexo de mediações sociais, o homem parece ser o único animal capaz de justificar a morte a partir da vida. [topo]
(2005)

 

"Matei Jesse James", de Samuel Fuller (1949)

 

Obra de estréia de Samuel Fuller, quase um anti-western devido a sua abordagem psicológica do drama de Bob Ford, interpretado por John Ireland, o homem que matou o lendário fora-da-lei Jesse James com um tiro pelas costas. Bob mata aquele que era o seu melhor amigo pelo amor de uma mulher (Cinty Waters, interpretada por Bárbara Britton) e pela ânsia de liberdade. Um dos momentos mais impressionantes do filme é quando o irmão de Jesse, Frank James, se aproxima de Ford e lhe diz que não vai matá-lo com uma arma, mas vai lhe dizer algo que vai acabar com a sua vida. E diz que a mulher amada, que o levou a trair e assassinar seu melhor amigo, ama outro homem. Em I Shot Jesse James, Fuller disseca a alma do personagem central. É o que explica, por exemplo, o uso abundante de close-ups. Através do drama de Bob Ford, Fuller nos mostra que a culpa de um homem pode provocar mais estragos que um tiro. Apesar de ser um homem livre, Bob Ford está imerso num drama íntimo: carrega a culpa de covarde e traidor, e a angústia da incerteza de ter o amor da mulher amada. Pior que Joseph K., em “O Processo”, de Franz Kafka, Bob Ford está imerso em seu trágico processo e tem, do mesmo modo, sua sentença decretada. Ao abordar o lado psicológico do western, Fuller disseca a crise da epopéia americana, tão bem ilustrada pelo gênero western. Ao trair Jesse James, Bob Ford trai sua própria classe social, a classe de homens subalternos fora-da-lei num velho Oeste dominado por banqueiros e grandes proprietários capitalistas de terra. Ao renegar a vida inglória de fora-da-lei, buscando a medíocre liberdade na ordem do capital, Bob Ford é condenado ao limbo pelo seu sentimento de culpa. I Shot Jesse James é o inferno de um homem só (Bob Ford), o homem que matou o lendário fora-da-lei Jesse James. [topo]
(2005)

 

"Matei Jesse James", de Samuel Fuller (1949)

 

Uma trupe de saltimbancos percorre a Itália no início dos anos 1950, liderada pelo carismático Checco (o grande comediante Peppino De Filippo). Certo dia, Liliana, uma bela jovem do interior que sonha em ser atriz de sucesso, começa a fazer de tudo para entrar na companhia, chegando a seduzir Checco. Com isso, ela provoca ciúmes em Melina Amour (Giulietta Masina) e discórdia no resto do grupo. Luci del Varietà é o primeiro filme de Federico Fellini como diretor, co-dirigido com Alberto Lattuada. O filme se inspira em experiências pessoais de Fellini, que no decorrer da carreira iria desenvolver um estilo único de cinema, um realismo lírico tão doce quanto amargo, tratando de problemas candentes da modernidade do capital numa perspectiva quase-surreal. Mas o surrealismo de Fellini provém de sua tentativa de resgatar dimensões perdidas da tradição e da memória no fluxo alucinado da vida moderna, que desmancha tudo que é sólido. O modernismo de Fellini se caracteriza pelo contraste bem-temperado entre Moderno e Tradicional, verdadeiro conteúdo onirico de seu vívido realismo quase-fantástico. Em Luci del Varietà, Liliana é a jovem do interior da Itália, fascinada pelo sucesso, marca do amor e da felicidade, posto como ideologia de uma Itália capitalista em processo intenso de modernização no Pós-guerra. [topo]
(2005)

 

“A Morte Cansada”, de Fritz Lang (1921)

Clássico do cinema alemão da década de 1920. Num vilarejo europeu do século XIX, a Morte leva um jovem justo quando este estava prestes a se casar. Desesperada, sua noiva vai buscar conforto na casa de um velho alquimista que lhe oferece ajuda. Lá, ela lê uma passagem na Bíblia que dizia que "o amor é mais forte que a morte". Ela resolve se suicidar para se encontrar com a morte e pedir a vida do marido de volta. A noiva, aos prantos, suplica que devolva a vida do seu amor. A Morte decide dar uma chance à jovem desesperada, prometendo devolver a vida do noivo se ela conseguir evitar a morte de uma das três vidas prestes a perecer. Fritz Lang nos mostra, então, a história das três velas acessas; a primeira, que transcorre na exótica Pérsia; a segunda, na Veneza Renascentista, e a terceira e última, na China Imperial. Em cada estória, três conflitos entre o Amor e a Morte. Em todas elas, a morte vence o amor. Entretanto, ela dá mais uma última chance à noiva apaixonada. A Morte irá trazer seu noivo de volta caso ela ofereça uma outra vida em troca. A noiva sai desesperada pela cidade à procura de alguém disposto a morrer, mas não encontra ninguém. Ela tem a oportunidade de oferecer um bebê que achou num prédio em chamas, mas não é capaz de dá-lo em troca do marido. Seu amor não é tão forte a ponto de sacrificar um recém-nascido. Entretanto, é forte o bastante a ponto de renunciar à própria vida (a válvula de escape do suicídio). Em Die Mude Tod, a Morte só cumpre ordens, e ela própria diz estar cansada desse trabalho ingrato, tendo que separar pessoas e famílias a mando de Deus, o que também pode ser visto em seu olhar, sempre tranqüilo, mas que parece se perder no nada. A Morte de Die Mude Tod que se ressente do cansaço tão humano, amaldiçoada na terra por cumprir os desígnios divinos, se afigura como uma das personagens mais solitárias da história do cinema mundial. Ora, o desalento da Morte é expressão plena da crise orgânica do mundo burguês na Alemanha de 1922, derrotada na Primeira Guerra Mundial, com milhões de alemães mortos, imersa em luta de classes e sem perspectivas de futuro. [topo]
(2005)


 

“A Mosca da Cabeça Branca”, de Kurt Neumann (1958)

 

Andre Delambre (interpretado por David Hedison) é um jovem cientista que obtém sucesso com experiências com teletransporte de matéria. Entretanto, ao utilizar-se como cobaia, ocorre um acidente trágico: uma mosca entra por acidente em sua capsula de teletransporte e ele se transforma num monstro com cabeça do inseto. Ficção-científica clássica refilmada depois por David Cronenberg em 1986 (como The Fly, "A Mosca"). Num primeiro momento, observamos o cientista fazendo ode à ciência, para depois da trágica experiência, ele renunciar às suas crenças na onipotência do saber científico. Em The Fly (de 1958), o cientista é um homem rico, pai de família, com mulher e filho pequeno. Entretanto, ele se dedica de corpo e alma às suas experiências cientificas, não dando atenção à família. Ele tem obsessão em dar um salto no progresso dos meios de transporte. É curioso que, o castigo vem de uma mosca involuntária que invade sua cápsula de teletransporte. O laborátorio é mera extensão de seu lar que se interliga com a fábrica metalúrgica, administrada pelo seu irmão (Vincent Price). [topo]
(2006)

 

 

“O Menino de Cabelos Verdes”, de Joseph Losey (1949)

 

 

Peter Frye (Dean Stockwell) é um garoto inglês que, durante a II Guerra Mundial, perde os pais, mortos por uma blitz, em Londres. Ninguém diz a ele que seus pais morreram e que agora ele é um órfão de guerra. E assim, sem ele próprio saber o porquê, vai sendo despachado da casa de um parente para o outro, todos igualmente egoístas e nenhum interessado em ajudá-lo. Anos mais tarde, Peter acaba indo parar na casa do tio Gramp (interpretado por Peter O'Brien), o mais gentil dos seus anfitriões. Peter e Gramp parecem se dar bem, mas na manhã seguinte em que toma conhecimento que seus pais morreram, o cabelo de Peter, subitamente, adquire a cor verde. As reações das pessoas que o cercam tornam-se absurdas, desprezando e perseguindo Peter por ele não ser igual aos demais. Por outro lado, Peter acredita que a cor verde de seus cabelos é uma mensagem de paz entre os homens e um repúdio à guerra, que torna tantas crianças infelizes. Entretanto, ele é obrigado por todos a raspar seus cabelos verdes. Parábola de Losey que expõe o caráter reaccionario das pequenas comunidades preconceituosas, incapazes de aceitar o que é diferente e singular. É uma critica visceral à intolerância de todo tipo. [topo]
(2006)

 



“Magnólia”, de Paul Thomas Anderson (1999)

 

Em San Fernando Valley, Califórnia, nove pessoas terão suas vidas interligadas através de "O Que as Crianças Sabem", um programa de televisão que existe há anos, onde um grupo de crianças desafia adultos. Se conseguirem o feito, ganharão uma alta soma de dinheiro. No time de crianças está Stanley Spector (interpretado por Jeremy Blackman), garoto prodígio que está começando a ficar cansado disto, pois percebe, entre outras coisas, que está sendo usado pelo pai (Michael Bowen) para ganhar dinheiro. O programa de tv é comandado por Jimmy Gator (Philip Baker Hall), um veterano da televisão que sofre de câncer, mas oculta a doença dos demais. Por coincidência, Earl Partridge (Jason Robards), o produtor do programa, está morrendo de câncer no cérebro e pulmão, tendo os seus dias contados (vide foto acima). Earl é marido de Linda Partridge (Julianne Moore), que se casou com ele por dinheiro, mas que se encontra desesperada, pois descobriu que ama o marido. Earl tem um enfermeiro particular, Phil Parma (Philip Seymour Hoffman), que lhe dá toda a atenção como profissional e como amigo. Earl pede a Phil que entre em contato com Frank T.J. Mackey (Tom Cruise), filho rejeitado por Earl que cresceu odiando o pai. Frank é um show-man que dá seminários para homens solteiros, onde ensina técnicas para seduzir mulheres. Frank odeia o pai porque Earl abandonou sua primeira esposa, mãe de Frank, após vinte e três anos de casados, quando esta estava com câncer, e deixou Frank com apenas quatorze anos para cuidar da mãe em estado terminal. Desta época em diante Earl e Frank nunca mais se falaram, mas Phil tenta localizar Frank de qualquer jeito para avisar que seu pai está morrendo. A falta de comunicação entre pais e filhos, um dos temas candentes de Magnolia, aparece também na relação de Jimmy Gator, o apresentador de tv, com sua filha, Claudia Wilson Gator (Melora Waters), jovem viciada em cocaína, que não fala com o pai, pois o acusa de tê-la molestado sexualmente. Jim Kurring (John C. Reilly) é policial que, certa noite, vai à casa de Claudia, após sido recebido queixa de vizinhos que denunciavam o som muito alto no apartamento dela. De imediato, Jim se apaixona por ela, e ela se sente atraída por ele, mas, ao mesmo tempo, está insegura em manter esta relação de enamoramento. Para concluir a aprseentaçào da trama complexa de “Magnólia”, temos o drama trágico de Donnie Smith (William H. Macy), homem de meia-idade que, em 1968, chegou a estabelecer o recorde do programa "O Que as Crianças Sabem", mas quando ficou adulto, tornou-se um patético fracassado em busca desesperada da felicidade. “Magnólia” é uma filme complexo que expõe, através de sua narrativa, as misérias das relações sociais numa sociedade de mercadorias, cujo metabolismo social se baseia nos valores estranhados do dinheiro e do sucesso a qualquer preço, com destaque para as relações fetichizadas entre pais e filhos, marcadas pela falta de comunicação, manipulação e indiferença (é o caso de Earl e Frank, Jimmy e Claudia e Stanley e seu pai). É a perspectiva da morte que tende a alterar a dinâmica reiterativa de relações sociais estranhadas (por exemplo, ao saber do câncer em estado terminal, Jimmy busca sua filha Claudia; outro personagem com câncer, Earl busca desesperadamente seu filho Frank; Linda, que se casou por dinheiro com Earl, diante da iminência de morte do marido, descobre que o ama). De certo modo, o filme expõe o esgotamento da lógica reiterativa do fetichismo do dinheiro através, por exemplo, das mudanças de atitude do jovem Stanley, que se recusa a ser manipulado pelo pai (de certo modo, o trágico Donnie é o Stanley que não desistiu de ser manipulado pelos adultos, há cerca de trinta e cinco anos). Por isso, a canção “Wise up” nos diz “Isto não vai parar; portanto, apenas desista”. Enfim, desista! - reitera o filme. É o que faz Stanley, Claudia, Frank (e inclusive Donnie) que rompem o circulo vicioso da incomunicabilidade e do desespero exposto pelas misérias da sociedade estranhada do capital. [topo] (2006)

 

 


“Maldição”, de Fritz Lang (1950)

 

 

Baseado em um romance escrito na década de 1920 por A. P. Herbert, Fritz Lang constrói em House by The River, um thriller de suspense de alto nível. Mais uma vez, os protagonistas de Lang são pessoas fracassadas, marginalizadas e esmagadas pelo sentimento de culpa. Um escritor fracassado Stephen Byrne (Louis Hayward), que vive às custas da rica mulher, Marjorie (Jane Wyatt), tenta seduzir a empregada da família, Emily (Dorothy Patrick), mas como ela o rejeita, o escritor a estrangula. Para se livrar do crime, tentará envolver o irmão John (Lee Bowman). A sujeira que corre pelo rio é em House by The River a metafóra da degradação moral que crassa na sociedade burguesa. Este drama gótico que se passa quase inteiramente dentro de uma velha mansão à beira de um rio, é um dos filmes menos conhecidos da fase americana de Fritz Lang. [topo]

 

 

 

“Medéia”, de Pier Paolo Pasolini (1969)

 

 

Baseado na tragédia grega de Eurípedes, Pasolini oferece sua versão de “Medéia”, buscando traduzir o significado do trágico na modernidade. A feiticeira Medéia mata o próprio irmão para fugir com o amado, Jasão, que roubara o velocino de ouro. Anos mais tarde, Jasão a abandona, para se casar com a jovem e bela filha do Rei Creone. Indignada, Medéia planeja uma terrível vingança contra Jasão. Com belíssima fotografia de Ennio Guarnieri, Pasolioni nos apresenta num de seus melhores filmes, uma reflexão visual sobre o tema da civilização e da barbárie, do moderno e do trágico, do mito e da verdade.[topo]

 

 

 

"Milagre em Milão”, de Vittorio De Sica (1951)

 

 

Fábula clássica de Vittorio De Sica, premiada com a Palma de Ouro de Melhor Filme no Festival de Cinema de Cannes em 1951. Totò (Francesco Golisano) é um órfão que, quando bebê, foi descoberto por Dona Lolotta (Emma Gramatica) em sua horta. A generosa velhinha cria o menino em seu espírito de bondade e pureza de coração. Quando ela morre, Totò passa anos em um orfanato, de onde sai com o ímpeto irresistível de ajudar os miseráveis "sem-teto", que vivem num terreno ocupado na periferia de Milão. Entretanto, após descobrirem petróleo no terreno, a felicidade dos moradores é ameaçada pelo proprietário (o milionário Mobbi), que manda a polícia evacuar o local. Em Miracolo a Milano, o milionário Mobbi (Guglielmo Bernabò) é apresentado como uma entidade totalitária, tecnocrática, anti-humana (ele usa um ''homem-barômetro'' amarrado à fachada de seu palácio. Dois servidores devem soprar suas mãos na noite gelada. E ele comanda pessoalmente as operações de milícia contra os moradores de seus terrenos). Ora, quando tudo parece perdido, Totó recebe um presente dos céus: Lolotta, que se revela uma espécie de anjo-da-guarda do filho adotivo, deixa-lhe uma pomba com poderes milagrosos. “Milagre em Milão” marca o apogeu da parceria entre o roteirista Cesare Zavattini e o cineasta Vittorio De Sica, que juntos fizeram "Ladrões de Bicicleta", "Umberto D", "Vítimas da Tormenta", entre outros filmes memoráveis. Neste filme, De Sica incorpora um caráter fantástico em seu estilo neorealista. A música-tema original, de Alessandro Cicognini, é quase um hino dos "sem-teto", proletários miseráveis, excluidos da riqueza social do mundo burguês. ''É de fato uma fábula'' - escreveu Pierre Leprohon em seu livro "O cinema italiano". ''Mas é uma fábula enraizada na mais autêntica e viva realidade.''[topo]