“A
Hora do Diabo”, de
Mervin Le Roy (1961)
Um
hidroavião pousa na ilha de Talua para desembarcar três
criminosos - Harry (interpretado por Frank Sinatra), Jacques
(Jean-Pierre Aumont) e Marcel (Grégoire Aslan) - e o
jovem sacerdotoe Padre Perreau (Kerwin Mathews), que deverá
substituir na ilha, o Padre Matthew Doonan (Spencer Tracy).
O Padre Doonan, que dá assistência a um leprosário
nas montanhas, convence o inspetor-geral de Talua, a fornecer
os presos para executar serviços braçais no sanatório.
Ao voltarem das montanhas, uma erupção vulcânica,
acompanhado de terremoto, castiga a ilha de Talua, que deve
ser evacuada, pois irá explodir. Doonan convence o condenado
Harry e seus parceiros a acompanha-lo num salto de para-quedas
sobre as montanhas para realizar o resgate das crianças
leprosas do hospital. No percurso de descida das montanhas,
o Padre Doonan, os criminosos, o médico, as enfermeiras
e as crianças enfrentam precipícios, incêndios
florestais e uma ponte suspensa a ponto de cair, enquanto tentam
chegar a um lugar seguro. Aventura dramática, dirigida
com Le Roy com a força expressiva da perfomance do ator
Spencer Tracy. The Devil At 4 O’Clock expõe
uma narrativa de condenados da terra num ilha perdida do Pacífico.
Na verdade, a pequena ilha de Talua é a metáfora
da sociedade burguesa, permeada de preconceitos e hipocrisia.
Ao mesmo tempo, é uma sociedade condenada pela Natureza
– a ilha deverá ser consumida por uma erupção
vulcânica. Talvez, como uma imensa Talua, o mundo social
do capital esteja sob um vulcão prestes a explodir -
é o que sugere LeRoy. Neste filme, são os marginais
sociais que expressam valores humanos. É o caso,
por exemplo, do Padre Doonan, um padre que perdeu a fé,
mas que acredita na ação humana solidária;
e do criminoso Harry, que se apaixona por uma jovem cega leprosa.
São eles que são capazes de solidariedade, esperança
e de disposição de sacrifício.[topo]
(2005)
“O
Homem-Elefante”, de
David Lynch (1980)
John
Merrick é um homem que nasceu com uma deformidade física,
em decorrencia da neurofibromatose múltipla. Como um
monstro espetacular, é explorado como atração
circense na Londres do século XIX. Ao descobri-lo, o
médico Frederick Treves (Anthony Hopkins), o leva para
um hospital e descobre que Merrick é uma pessoa sensível
ao extremo, com alta capacidade intelectual e emocional. O Dr.
Treves e uma atriz de sucesso, Sra. Kendal buscam recuperar
sua dignidade e dar-lhe auto-estima. Entretanto, apesar de resgatado,
John Merrick tornasse, mais uma vez, atração de
curiosidade para a high society londrina. Baseado em
fato verídico, David Lynch faz uma parábola sobre
o preconceito social diante do estranho. No caso, um
homem deformado por uma terrível doença que o
torna um estranho monstruoso. Tanto a classe proletária,
quanto a aristocracia inglesa, demonstram, ao mesmo tempo, espanto
e fascinação diante do monstro espetacular,
buscando, deste modo, explora-lo (como meio de ganho monetário),
ou ainda utiliza-lo para redimir seu sentimento de culpa. Em
The Elefant Man, o que é perceptível
são as diferentes reações de classe diante
do homem deformado: os miseráveis demonstram espanto,
ganância e frieza, talvez vendo no “homem-elefante”
sua própria deformidade moral e social; por outro lado,
a elite vitoriana, demonstra para com ele, seu reconhecimento
e generosidade, talvez utilizando-o para elaborar, em seu insconsciente
social, a mea culpa diante das misérias
do capitalismo vitoriano. Neste drama social, é através
da “monstruosidade” que as classes sociais se refletem,
expressando nele, sua auto-imagem.
[topo]
(2005)
“O
Homem Errado”, de
Alfred Hitchcock (1956)
Em
Nova York, em janeiro de 1943, ao visitar um escritório
que concede empréstimos, em busca de 300 dólares
para o tratamento dentário de sua mulher, um músico
de uma casa noturna (interpretado por Henry Fonda) é
confundido com um assaltante que havia roubado o local um ano
antes. É preso e acusado de assalto. Consegue liberdade
sob fiança e, com orientaçào de advogado,
tenta provar sua inocência. Entretanto, tem dificuldades
de encontrar testemunhas a seu favor. Imersa em sentimento de
culpa e impotente, sua mulher adoece, sendo recolhida ao sanatório.
O filme “O Homem Errado” de Alfred Hitchcock
trata da
desestruturação da vida de um músico proletário,
homem de familia, de vida pacata, religioso e honesto, atingido,
por uma situação de estranhamento. É acusado
por um crime que não cometeu. Eis um tema kafkiano que
Hitchcock
retoma com
desenvoltura. Aliás, o mestre do suspense tem talento
para tratar do tema do estranhamento social, que permeia a sociedade
das mercadorias, e traduz-se em tramas de mistério e
de situações inauditas. O filme, baseado em fatos
reais, conclui-se com a prisão, por acaso, do sósia
de Henry Fonda, verdadeiro autor dos crimes de assalto. [topo]
(2006)
“O
Horror Vem do Espaço”, de
Arthur Crabtree (1958)
Um
cientista desenvolveu uma máquina que potencializa o
poder da mente humana, transformando pensamentos em energia.
Mas, com isso também criou acidentalmente terríveis
criaturas vampirescas que se alimentam de cérebros humanos,
aterrorizando os habitantes próximos de uma base militar.
Talvez as grotescas criaturas vampirescas sejam a metáfora
do complexo industrial-militar, que suga o intelecto humano
a serviço da dominação imperialista. "O
Horror Vem do Espaço" é um clássico
do cinema B britânico, um híbrido de ficção
científica e horror, baseado na história The
Thought Monster, de Amélia Reynolds Long, publicada
em 1930 na famosa revista de contos de horror Weird Tales.
O horror trash expõe uma sutil critica ao militarismo
do pós-guerra com sua incapacidade de controlar as forças
malignas liberadas pelas experiências secretas do complexo
industrial-militar. A única vítima deste horror
que não vem do espaço (o que é
um erro crasso o título na versão brasileira)
é a pequena comunidade local, acuada entre as ambições
do cientista louco e a "Caixa de Pandora" do militarismo
da guerra fria.
[topo]
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