""Fahrenheit
9/11 ", de
Michael Moore (2004)
Documentário
político sobre como o Governo Bush se aproveitou dos
atentados terroristas de 11/09 nos EUA para consolidar sua estratégia
de negócio (a da familia Bush) e de poder imperialista
(o dos EUA). Moore nos apresenta os vínculos de longa
data dos Bush com a clã Bin Laden e a Arábia Saudita,
que investiu, só nas últimas décadas, cerca
de US$ 860 bilhões nos EUA; o Decreto Patriota, que atingiu
as liberdades civis nos EUA a título de deter a ameaça
terrorista; a cultura do medo, a invasão do
Iraque, as oportunidades de negócios (com destaque para
a empresa Halliburton), o recrutamento de jovens desempregados,
a barbárie da guerra e a dor das perdas com soldados
mortos. O documentário de Moore disseca, de forma quase
didática, os vínculos entre poder político
imperialista e interesses de negócios das corporações
industrial-militar (mediado, é claro, pelos interesses
da família Bush). Na verdade, torna-se claro neste documentário
de Moore que a família Bush se apropriou do Estado para
defender seus interesses particularistas. Os limites de Fahrenheit
9/11 é seu viés planfetário –
panfleto do Partido Democrata. Sua crítica do sistema
de poder imperialista nos EUA é bastante limitada, tendo
em vista que não salienta que não são apenas
os Republicanos que se apropriam do Estado político para
a defesa de seus interesses familiares e de classe, mas inclusive
os Democratas (que apoiaram, por exemplo, a invasão do
Iraque). Enfim, talvez Bush seja apenas o lado mais décrepito
de um sistema apodrecido do poder mundial do capital, que dilacera
não apenas os EUA mas todo o mundo com sua sanha imperialista.
Na foto acima, a perene expressão de G.W. Bush às
9: 05 A.M. do dia 11 de setembro de 2001, exato momento do ataque
terrorista ao World Trade Center em Nova York. O que estaria
passando por aquela cabeça? [topo]
(2005)
“Flash
Dance”, de Adrian Lyne (1983)
Uma
jovem proletária, a bela Alex Owens, de 18 anos, interpretada
por Jennifer Beals, garota do interior, de garra e talento,
busca realizar o sonho de dançar em um conceituado conservatório
de balé clássico. Para tanto, durante o dia ela
trabalha como operária soldadora em uma construtora,
e à noite solta seu corpo no ritmo alucinante das discotecas.
Até que, certo dia, Alex conquista o coração
do dono da construtora, homem separado, mais velho e muito rico.
Filme de sucesso nos primórdios da década de 1980,
que expõe a ideologia do sucesso na ótica do individualismo
romântico de cariz neoliberal. Ao estilo de Embalos
de Sábados a Noite, com John Travolta, Flash
Dance, imerso na era Reagan, mescla sonhos utópicos
da sociedade burguesa, tais como a ascensão social através
do amor romântico – a jovem pobre – e operária!
- que se casa com homem rico, mas que não abdica de seus
sonhos profissionais. A ideologia do sucesso por conta própria,
preservando, com dificuldades, valores conservadores (Alex é
um vulcão de desejos, de libido à flor da pele,
que busca aplacar seus sentimentos de culpa no confessionário;
além disso, possui ciúmes alucinados, quase ao
estilo de Glenn Close em Atração fatal)
A trilha musical de sucesso é de Giorgio Moroder. A direção
é de Adrian Lyne que fez depois: 9 ½ semanas
de amor, Atração Fatal, Proposta
Indecente, Lolita e Infidelidade. Vale
conferir para apreender a ideologia da vida neoliberal e uma
dos aspectos da crise do fordismo como modo de subjetivação
do trabalho, ou seja, o corpo se libera através da dança
e do sonho do trabalhado por conta própria, mas sem se
“desconectar” das factualidaes do sócio-metabolismo
do capital (a ideologia do sucesso e posessividade romântica).
[topo]
(2005)
"A
Fantástica Fábrica de Chocolate", de
Tim Burton
Um
excêntrico capitalista, proprietário da fábrica
de chocolate Willy Wonka, interpretado por Johnny Deep, promove
concurso internacional para escolher aqueles que vão
fazer um tour em sua fantástica fábrica.
Cinco crianças de sorte, entre elas Charlie Bucket, encontram
os bilhetes dourados em barras do chocolate Wonka e ganham a
visita. Maravilhado com tudo o que vê, Charlie fica fascinado
pelo mundo fantástico de Wonka. Na verdade, o capitalista,
imerso em conflitos íntimos e traumas de infância,
almeja escolher seu sucessor. Refilmagem do filme de Mel Stuart,
de 1971, baseado na obra "Charlie and the Chocolate Factory",
de Roald Dahl. . No filme de Tim Burton, com seu estilo gótico,
expressando um universo sombrio e espetacular, Charlie e a família
Bucket parecem uma abstração. Representam a típica
família proletária, que preservam ainda valores
de sociabilidade tradicional. O pai de Charles é um ex-operário,
desempregado em virtude de inovações tecnológicas
no seu local de trabalho. No filme de Burton o destaque à
condição operária, vítima do desemprego
estrutural é interessante (o que não havia no
filme de Stuart). Todos os Bucket moram num pequeno barraco
incrustado no centro da cidade. A presença no lar dos
Bucket de todos os avós de Charlie prefigura a preservação
de laços afetivos com o passado. Na verdade, o jovem
Charlie está ainda imersa no mundo tradicional, onde
o que prevalece são os verdadeiros laços de família
tradicional. Por outro lado, as outras crianças –
Augustus, Veruca, Violet e Mike, estão imersos no mundo
do fetichismo da mercadoria. Ao tratar do mundo das crianças,
Dahl (e Burton) buscam apresentar as contradições
candentes do nexo sócio-reprodutivos da sociedade do
capital. Numa situação de crise estrutural, a
partir de meados da década de 1970, o universo problemático
das crianças, como prefiguração da reprodução
social, é deveras pertinente. Afinal, as crianças
representam o futuro do sistema social. O que presenciamos em
Charlie and the Chocolate Factory são crianças
pervertidas pelos valores da "sociedade do espetáculo",
onde vigora o egoísmo perverso, a possessividade das
coisas, do consumismo e da gulodice. Cada criança contemplada
pelos cupom Wonka prefigura uma degradação da
personalidade infantil pelo fetichismo do capital, com exceção
de Charlie. O aclamado diretor Tim Burton traz seu estilo extremamente
gótico-criativo ao livro clássico de Roald Dahl.
Existem diferenças sutis em relação à
primeira versão de Mel Stuart, de 1967. Por exemplo,
no filme de Stuart, o jovem Charlie vai à escola (o que
supõe destacar ainda uma perspectiva de integração
possivel à ordem do capital para a classe proletária
através da educação escolar). Na versão
de Tim Burton, a pobreza dos Bucket parece ser mais dilacerante
do que aquela mostrada por Mel Stuart. Outro detalhe interessante
é que, na nova versão de 2005, as relações
entre o capitalista James Salt, pai de Veruka Salt, e os operários
da sua fábrica, que procuram, para sua filha Veruka,
os cupons Wonka é pautada pela aguda desconfiança
(o que não havia na versão de Mel Stuart). O que
pode sugerir a degradação das relações
de trabalho nos últimos trinta anos de crise estrutural
do capital. [topo]
(2005)
“Farrapo
Humano”, de Billy Wilder
(1945)
Don
Birman, interpretado por Ray Milland, é um escritor frustrado
com a carreira que se afunda no vicio do alcoolismo, buscando
afogar suas desilusões profissionais. Seu irmão,
Wick e sua namorada, Helen St.James, interpretada por jane Wyman,
jovem editora de revista bem-sucedida, buscam ajudá-lo,
afastando-o da bebida, mas sem sucesso. The Lost Weekend,
ganhou 4 Oscar e teve roteiro de Charles Brackett e Billy Wilder,
baseado em livro de Charles R. Jackson. O jovem escritor Don
Birmann sente, em 1945, os constrangimentos do American
Way of Life, onde o ritual do sucesso introjeta nas personalidades
incapazes de cumprir os ditames do princípio do desempenho,
um agudo sentimento de culpa, que se traduz em auto-destrutividade.
É que acompanhamos em The Lost Weekend: a odisséia
da auto-destrutividade de um homem pelo alcoolismo, incapaz
de lidar com sua barbárie interior, sua fraqueza intima
diante dos constrangimentos do sucesso. [topo]
(2005)
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