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“Guerra
dos Mundos” de Steven Spielberg
(2001)
Destruição,
caos e terror sempre foram os ingredientes preferidos para que o cinema
industrial norte-americano construísse seus filmes-catástrofe-arrasa-quarteirão.
Carregado de ideologias e metáforas, geralmente apostam no
temor do ser humano frente ao estrangeiro, ao alienígena e
ao sobrenatural para nos contar uma história bem simples, por
mais apavorante que possa parecer. Com Guerra dos Mundos não
é diferente, o diretor Steven Spielberg usa e abusa dos efeitos
digitais para relatar o antigo mito da invasão alienígena
no mundo terreno. Inspirado na obra de H.G. Wells, lançada
em 1898, Spielberg aproveita o temor despertado pelo 11 de setembro
para construir uma obra de entretenimento com todos os clichês
possíveis lá do arco da velha do cinema. Apropria-se
dos elementos sombrios de quase todos os seus filmes anteriores, fáceis
de reconhecê-los, como E.T. - O Extraterrestre, Contatos
Imediatos de Terceiro Grau, Tubarão, Inteligência
Artificial - considerando ainda a sua carona na onda do Titanic
de Cameron.
O olhar que temos das tragédias ocorridos no filme é
o mesmo captado por Ray Ferrier (Tom Cruise), um pai de família
divorciado e trabalhador que vive num bairro proletário em
Nova Jersey. O filme aposta justamente nesse homem comum, cuja vida
simples é logo atormentada por alienígenas sedentos
de sangue. Ele, um homem pacato, logo se torna um super-herói
que protegerá seus filhos e sua família de todo o Mal
que aflige o país. O discurso ideológico do homem, norte-americano,
que mesmo indefeso consegue combater o inimigo e reatar a família,
é evidente. Até no final, quase surreal, o filho que
se tinha por desaparecido e praticamente sugado pelos alienígenas,
surge magicamente de uma rica mansão junto à mãe
para agradecer a ‘missão impossível’ do
pai.
A diferença dos filmes anteriores de Spielberg é que
agora os extraterrestres não são mais dóceis
e bonzinhos, mas sim gigantescas máquinas de guerra que pretendem
exterminar a humanidade e, particularmente, os Estados Unidos –
fato já sugerido por outros diretores em Independency Day
e Marte Ataca!. Guerra dos Mundos demonstra que
a Terra não é mais um lugar protegido e seguro para
se viver e que os norte-americanos temem neuroticamente aos ataques
alienígenas. Falar em xenofobia seria um exagero, porém
é evidente a metáfora do medo aos invasores, aos novos
colonizadores. Pois o filme nunca explica de onde os ETs procedem,
sabemos somente que chegam para promover a matança geral (mostrada
com certo prazer), aproveitando de algo humano (no caso, o sangue),
para constituírem novas terras.
Como o temor humano diante dos alienígenas possui a mesma motivação
do prazer em criá-los, o desejo e o medo parecem sinônimos.
Mas como Tom Cruise e Spielberg disseram realmente acreditar em alienígenas,
aí a metáfora torna-se mais preocupante...
José
Rodrigo Gerace,
é mestrando em Cinema na UFMG
(2005)
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